Maracatu dos Prazeres

Preciosa estava pronta. Radiante. Vestida à caráter, desceu para o Maracatu. Rodopios! Sorrisos! Alegria! Cabelos esvoaçantes, deixava no ar o calor da fogueira que havia em si. Queimava, e como ardia! Quanto mais rodopiava, mais lenha consumia, mais o calor aumentava, mais palmas se ouvia. Maracatu! Ai! Os cabelos ondulando, as mãos deslizando no ar, o olhar provocante, atraindo e chamando para si a atenção daquele que, bem de perto, admirava-a. Perplexo! Ai, os cabelos esvoaçantes! Rodopios, alegria e o suor escorrendo pelo corpo dela, descendo de cima abaixo, como cachoeira que deságua generosamente em lagoa acolhedora. Exausto de desejo, queimado pelas chamas saídas dos olhos de Preciosa, ele tinha as mãos trêmulas e a boca seca, devido à ansiedade de tê-la consigo. Era dia de festa, sim, senhor! Rodopios! Assobios! Sorrisos! Alegria! Aplausos! Eis que, enfim, gemidos! Eles não tardaram. Na confusão dos aplausos, mesclaram-se com os rodopios do Maracatu, combinando movimentos e desejos, fogueira e lenha. Ela, o fogo. Ele, a madeira. Sim, uma fogueira faiscando ao som da maraca, da cabaça, dos tambores. Melodia harmoniosa, calor convertido em movimentos ritmados. Ah! Os rodopios! Rodopios na madeira em brasa, baile frenético em que o olhar afiado apunhalava vez por outra o olhar rendido e vencido daquele que, gemendo, sentia, por baixo, a maciez da seda que cobrira a fogueira, que queimava a lenha, que ardia em brasa! E Preciosa bailando, indo e vindo, rodopiando, fazendo dos assobios, gemidos inocentes, dos aplausos, palmadas estimulantes, dos elogios, sussurros de luxúria, da alegria, a explosão do prazer mais agudo que sentira até então. Mais rodopios, mais assobios, mais aplausos, mais elogios, mais alegria, e por fim, uma vertigem de um suor seminal que dos dois fez um só, encharcados e misturados naquele mágico bailado de maracatu. Ao fim, os rodopios cessaram, os aplausos foram embora com aqueles que assistiram e no coração dos que os receberam. A madeira, vertida em cinzas, como uma Fênix recobrava aos poucos sua vida, e em breve se ergueria para novamente consumir-se no fogo. Ao seu lado, diminuta, mas intensa, a chama da fogueira ardia.

Fabio Ferreira S
Enviado por Fabio Ferreira S em 23/06/2014
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