Sobre despedidas

Sobre despedidas:

Seria bom se acreditarmos que para cada fim há um começo, que o capítulo mudou mais o livro continua e isso não significa que você vá esquecer a introdução!

Eu tenho feito isso muitas vezes ao longo da minha vida, e mesmo assim não consigo me habituar as despedidas.

O dialeto pronunciado a cada despedida não têm significado ou tradução para mim, nem ideologia, apenas peso. Elas só servem para quebrar o silêncio ensurdecedor do portão de embarque, do aperto de mão, do abraço mais apertado (pois os abraços mais apertados se dão nas despedidas). Porque o significado das palavras desse dialeto foram roubadas pelo peito comprimido, pelo soluço, pela lágrima salgada que rola no rosto e pelo olhar que se estica de dentro para fora e de fora para dentro.

A despedida é um desenlace de partes que já não se reconhecem como independentes, são juntas, uma coisa só, uma vez que se enlaçam as mãos, os braços, os desejos, as mentes, uma vez enlaçado o anseio de não se afastar, separar, abstrair, é difícil se despedir!

Saudade, venha cá e faça morada!

A despedida vem junto com a saudade e acoplada a elas vem a aceitação que um velho ciclo se fecha e outro se abre.

As lágrimas, nesta fase, já nem mais precisavam ser convidadas ou forçadas, elas aparecem, involuntariamente e descontrolavelmente rolando sobre despedidas, é doloroso, eu sei, mas faz parte de todo esse tramite!

E talvez eu não seja a pessoa mais indicada para estar escrevendo algo sobre, justo eu, que tenho medo do incerto, medo do inseguro. Justo eu, que me apego tanto.

Aceitar! Talvez seja isso!

Sobre despedidas, não gosto, sempre dou o meu "até logo". Porque o adeus, por toda a vida... bem, eu dispenso.

Sobre despedidas eu não sei muito mais que vocês!

Só sei que despedidas doem e deixam buracos intermináveis. E cegam, e emudecem, e paralisam, e findam, e se duplicam, e almejam. Que deixam cicatrizes nos pés e nas mãos, que deixam a garganta seca e o sorriso travado, e que segura as lágrimas. Sei que não passam na goela.

De despedidas, só sei o que já vi e sentir! Eu sei de mim, e da minha angústia toda, fugindo pra dentro do quarto e me trancando no escuro, talvez me escondendo atrás do guarda-roupa ou debaixo da cama.

A despedida é intragável, INTRAGÁVEL!

E na despedida... eu me despeço e então me despedaço!

Carol Dominguez
Enviado por Carol Dominguez em 30/06/2014
Código do texto: T4865022
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