cela




     Acordei há alguns minutos. Mas não consigo abrir os olhos. Sequer mover os dedos. Pelo cheiro, hospital. Pelas vozes, são três, estou, e como estou, mal. Uma das três é familiar. Na verdade, os sussurros são. Ao longe, no rádio, futebol. Não consigo abrir os olhos. Sinto a claridade, uma bela, tarde de sol. Pelo silêncio, é domingo. Agora sei, sei mesmo, que estou vivo. Apenas ressaqueado pelas centenas de sonhos e devaneios que tive até há pouco. Preciso encontrar forças para não desistir. Não ficar louco. Preciso me esforçar para recordar, entender o que aconteceu, descobrir se vale a pena continuar exilado no próprio corpo.

     Então, vamos lá: quem sou eu?







 
17/7/1999
Lucas de Meira
Enviado por Lucas de Meira em 15/07/2014
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