Madrugada

Caída ao relento

Perdida por aí

Algures no tempo

acompanhada do vento

alma penada

despida de tudo

vazia por dentro

esquecida por fora

mórbido momento

sórdida realidade

impune do pecado

rasgado de lágrimas

inerte

triste

vagueando

ali, aqui....

Fico parada na noite

Feito candeeiro da madrugada

Aliciada pelo nada

Enganada por este e aquele

Por mim e por ti

Coração em derrota

Barriga na fome

Morrendo de sede

Cabisbaixa

Pois esta é a vida que levamos

Feito animal, feito gente

Feito objecto, feito verbo

Alimento que não mata a fome

Sozinha nas ruas

Perdida no limiar da saudade

Entre o precipício e o destino

Pedras da calçada

Que me removo e demovo

Balançando anestesiada pelo amor hoje esquecido

Feito mulher, feito criança

Sem marcas

Sem rasto

Do que outrora fui

E no estado que hoje me deixaste!

Joana Sousa Freitas
Enviado por Joana Sousa Freitas em 09/09/2005
Código do texto: T48937