Calmaria

Ainda sinto no corpo a sensação envolvente de um vento do norte, sempre a partir.

Fragmentos de um dia em que a sorte começou a mudar.

Talvez por isso a gota de orvalho cristalizado nos olhos da moça.

Pingos de noites num efeito garoa sobre meu corpo rasteiro de sal no cabelo, de sol nas curvas, de sol caracol...

Minha carne viva no braço do mar que me bate por dentro.

Minhas mãos na areia catando gotas, lágrimas soltas prazenteiras

como um cardume de prata perseguindo fragatas de luzes

nas profundezas das palavras mudas, corais vazios: silêncio.

Ainda sinto o hálito quente da boca do vento

num efeito lento, rarefeito, raro e feito de juras.

Alento nas calmarias quando perco o rumo

e o anseio é fluir.