DELFOS

Delfos, o centro do universo, omphalos. Do monte Parnaso a narração ficará sempre incompleta, o mundo continua como um átomo, nada poderá ser mais grandioso. Assim, Apolo teve – talvez – a maior veneração para quem é Deus, em maiúscula sem equívocos. A jovem Castália olhava o céu para orar a beleza tão próxima de si como a própria face, essa beleza que provoca lágrimas na sua ausência. As ninfas, figuras femininas da natureza, povoam ainda hoje – evidentemente – os bosques, os oceanos, as águas, as fontes, os vales, que sei mais!?Apolo, com a luz radiante pelo rosto, amou várias movido pela sua essência. Corónis, em Tessália, também Dafne, Clítia, inúmeras paixões outras o sol divino possuiu. Lembremos Castália enquanto passeava junto do santuário do Deus. Imagino a rapidez de uma sombra, árvores espargindo o vento, uma simples poeira no ar levitando do solo sagrado. Um instante na realidade, histórico, estas pedras milenares, os versos de Hesíodo e Homero. E aquela hora do eterno retorno vital escreve-se por si nos meus apontamentos hodiernos. Templo, Altar de Quios, Estádio, Teatro, Tholos, o muro de inscrições gregas, qualquer roteiro turístico assinala, mesmo sem comoção. Para escapar à nova paixão de Apolo – volto ao amor -, a jovem ninfa precipita-se sobre as águas de uma fonte anónima próxima. Será fonte Castália, para sempre. E.E. Agora, com a moldura do poente, do crepúsculo declinado entre os ciprestes de Parnaso, bebo a celebração límpida que jorra da fonte translúcida como se fosse um crente. Ouviste falar das Castálides? As musas dos arredores inspirando o palco das palavras, todos os nomes que se adivinham para inventar a beleza mais real.