A Selva de Pedra

O sol desponta acima dos mirantes e reverbera ao concreto dos edifícios. Quantos passantes nunca estacam as pernas pelo fator do ganha-pão?... Conhece-se o sobreviver, mas não sobre viver.

Por aqui todos correm a trotes largos, como se a última locomotiva com destino ao solo dos deuses fosse atravessar a avenida regurgitada. Todos andam a olhar à frente, e nem sequer notam de viés os lados; talvez somente para perceber os carros, mas o perímetro de sua própria localização é desconhecido. Só vem à ideia o mapa invisível que nasce no férreo da percepção, e trespassa pelo estereótipo. A fim de sabermos para onde vamos.

Também tem o afã pelos transportes. Temos a devida incumbência de vermos a luz do despertar, antes mesmo que o sol divino queira aparecer entre as nuvens. Por isso somos seres do crepúsculo, de certa forma talvez sejamos sombrios; pois dormimos às trevas da noite, e acordamos na escuridão pós-ela. Mas é nosso dever, é nosso horário; se não o fizermos, o relógio irá nos castigar com seus pêndulos afiados; cortará-nos a utilidade e as ações. Pobres baldados seremos nós...

E como não descrever o âmbito versátil da cidade... Um taxista cruza os braços e apóia-se ao próprio veículo, apenas esperando o cliente. Os motociclistas correm pelas bordas; vejam aí o tempo impiedoso novamente: esqueçam a vida, mas lembrem-se de seus horários. Também temos os automóveis da média classe, que pejam as ruas e avenidas com o coquetel de suas tonalidades. Há também os ônibus do transporte público, que sempre traz os viajantes de mesmo itinerante. E existe o portal subterrâneo que engole os andantes: o metrô; onde a romaria passa desenfreada. Todos aferidos dentro das vestes de sua época, e também em nossos excêntricos hábitos, pois não largamos a tal máquina que nos conecta com o resto do mundo, mas exorbita da própria realidade; e como todos os extremos: sem sonho, não há realidade; também sem realidade, não há sonho.

Aí se chega ao destino traçado. Período integral ou meio período, pouco importa, mas o certo é que é um período. Correm-se os segundos, minutos, horas, aí termina o dia. Funções cumpridas. Conversas frouxas. Combinações de programas. Acabou, vamos voltar para casa, pois amanhã será a mesma coisa.