Crônica de uma menina tristinha

"...Ela não soletrava a música da alegria. Nem se comovia com o verde das folhas e das árvores, porque achava tudo tedioso e sem graça... Vivia correndo pra se esconder do sol e olhava as estrelas literalmente de longe... Aquela menina só se sentia bem no útero da cama, encolhida, com o coração cheio de medo... Andava um tanto cansada, já, de viver assim, com o coração de cristal todo recolado e com marcas da vida aparecendo no corpo... Alegrias, poucas, e raras borboletas - flagrantes de felicidade - pousavam em sua alma... Na maior parte do tempo, desespero...Chorava todos os dias cobrando sorrisos de si mesma. E a felicidade brincando de cabra-cega.

Um dia, alguém lhe colocou uma margarida branca nas mãos e pacientemente a menina despetalou-a e fez um chá imaculado de alegria. E o milagre aconteceu! A medida que o líquido descia, a tristeza ia embora...Sentiu-se corajosa e bonita. Sua cabeça pirilampava. A vida, finalmente ficara colorida. E assim foi durante algum tempo. Numa noite de lua cheia porém, o chá não fez seu efeito. E ela tomou uma xícara, e outra e mais outra... As sementes cochilavam ao seu lado, quando enfim ela entendeu que não se bebe a felicidade... E caiu numa lenta agonia. Chamou por todos os santos e por Jesus. Ele não veio e nenhum outro também. Apenas a loucura, a partir de então, foi sua companhia pelo resto da vida..."