Eu quase nunca te amo
A carta está parada na mesa à minha frente. A caligrafia é instável mas bonita. O conteúdo, nem tão bonito assim. A madrugada pesa em minha consciência mais uma vez e tudo ao redor é o perturbador silêncio dos que dormem.
Seguro a carta nas mãos e repasso seus parágrafos. Ela possui um início e um meio, mas não um fim. Termina abruptamente, feia, torta. Ela anseia por um fim, mas fim de quê?
Poderia ser uma carta de um namorado, amigo ou parente; não fosse por o destinatário ser o auto reflexo no espelho.
A pressa em terminar a carta se dera ao fato de que ao desejar felicidades a mim mesma, tenha tido um horrível lapso de realidade: não possuo a capacidade nem o merecimento para isso.
A carta acaba, então, com a caligrafia grande e apressada, rascunhando as palavras: eu quase nunca te amo.