GINGER TEA

Estamos no início do outono, já assisto da janela a queda das folhas que caridosamente caem para que outras nasçam, as vezes a abnegação é necessária para que se paire livre sobre o ar. A temperatura assaz me recorda de julho, um mês em que toda e qualquer uma suplica se torna idônea sobre todos aqueles que de um amor precisam. Minhas sinapses devem estar queimadas, estamos no outono e eu falando sobre o inverno. Já faz algumas horas desde que repousei o pires da xícara na mesinha de canto, o chá antes quente, agora frio, ajuda a esfriar os problemas rotineiros. Tic-tac, bate o relógio. Dizem que as coisas que acontecem sempre vêm para o nosso bem, as pessoas que dizem isso estão totalmente enganadas, muitas delas não sabem como é ter um nó no cérebro que te impede de concluir todos os projetos já iniciados um dia, nada como deixar oxigenar; nada como se deixar sanar. Tic-tac, bate o relógio. Os ponteiros já se cruzaram dando inicio a um novo ciclo de piscadas em todos os ângulos, ainda sinto o aroma da hortelã fresca em suas roupas, traga-as de volta.

Jurei te amar avidamente, menti, eu confesso. Não foi nada obstante ter que olhar dentro dos olhos em que um dia vi meu futuro, mitigue-me. Meus medos são inábeis, não me causam nada além de lembranças, não há o que temer. Não deve ser muito normal passar tempo de mais na cama, sou imperito no assunto, estava apenas me lembrando o quão gracioso ter seus cabelos deslizando entre o espaço que separa meus dedos, era a engrenagem perfeita. Isso não é tão aprazível quanto parece. Tic-Tac, bate o relógio. Preciso saber se meus pensamentos são funestos ou apenas um contingente de confusões. Não há como saber se isso se rebuçará, se acontecer, use correntes, seria horrível me lembrar dessas horas deitado aqui. Melhor seria ter ficado debaixo da mesa, lá as coisas continuariam frias e eu não teria que me sentir acabrunhado sobre nada disso. Não suporto mais esse travesseiro rustído de memórias inefáveis, ninguém as entenderia, é tolice minha achar que alguém deixaria seu tempo ser tomado para que súplicas adolescentes atravancassem seus ouvidos. Não consigo não querer desistir de tudo.

As vezes me imagino preso em uma caixa ou em algum lugar inacessível, as pessoas se lembrarão que um dia fiz parte de suas supérfluas vidas? Seria um grande despautério achar que todas as perguntas já feitas aqui seriam respondidas. Estou falando sozinho, aliás, pensando sozinho. É difícil pensar com tanta asneira vagando pelo hemisfério esquerdo do meu pobre cérebro. Eu sei que você gostava de agir como se não se importasse, era algo voraz de mais para uma pessoa sem limites, sua criação foi displicente de mais. Tic-tac, bate o relógio. Prometi não te deixar cair, mas você se jogou no chão. A promessa quebrada foi escrita em um coração que agora em pedaços sobre a cama, lamenta ter tido nossas iniciais escritas nele, você sabe muito bem como eu gostaria que tivéssemos sido um, aquela foi a ultima vez que cantei nossa canção. Estamos quebrados, os dois no chão.

É incrível o jeito como me encontro inexecutável, parece um ebulitivo aglomerado de dilemas que me dividem em querer me afogar em você e te despejar na pia, parece frígido, mas não é. É expressamente literal o modo como ainda consigo me afogar em você, preciso de algo anódino, essa fase medíocre não me agrada nem um pouco, tenho um completo desgosto pela pessoa que me tornei. É bom ter pensamentos inócuos de vez quando, enganar o coração dizendo que está tudo bem, não há nada de errado em usar o placebo de vez em quando, o problema é quando nos acostumamos com ele e tentamos viver dentro um mundo onde tudo sempre tem dois lados. É como o colchão, vire-o para baixo e terá um completamente novo. Tic-tac, bate o relógio. Não se exorbita algo limitado. É completamente repugnante o jeito como te descrevo, isso acaba aqui.

Odeio ter que engolir todas as palavras que eu gostaria de ter dito para você, odeio ter um filtro, é claramente perceptível que sou desproporcionalmente fundido com uma criança confusa, isso tudo é resultado do meu lado pueril ainda estar vivo, está sendo necessário abalizar tudo para que ao chegar a uma conclusão final eu não me decepcione com o ponto final. Comprei balas novas e agora minhas palavras podem disparar a qualquer momento, é bom sair de perto, não sou bom em mirar, nunca fui, não é atoa que havia te escolhido. Tic-tac, bate o relógio. Já é hora de fazer como Dorothy e seguir a estrada de tijolos amarelos sem saber onde vou chegar, é a melhor solução para todos os problemas. Não há nada sobre controle aqui, atire, mas depois costure o buraco, não seria longânimo limpar tudo o que sempre quis dizer da parade do meu quarto.

As horas passaram tão morosamente que parece que estou deitado a dias, não foi fácil voltar ao o que já estava momentaneamente esquecido por decisão não própria. Alguém poderia ter me avisado que isso não seria fácil, ninguém se manifestou quando gritei da janela do quarto andar dizendo que faria chá o suficiente para que meus rins explodissem de tanto gengibre, eu queria que alguém me tivesse dito que isso era preciso; que era necessário.Tic-tac, bate o relógio. Agora que sei a verdade prometo a mim mesmo que serei áxil ao ponto de não me deixar alucinar por qualquer “Olá!” que seja entoando em tom airoso – o que seria completamente impossível – e tênue.

Antes que eu arrume a cama preciso concluir que ter flashbacks de um passado recente não foi agradável, me expus à coisas consideradas radioativas para meu coração e meu estado mental, todos sabe que minha língua não se cansa de limpar o palato ao dizer seu nome, ele se repete tantas vezes que não sei se serei capaz de um dia parar de ouvi-lo sem assemelhá-lo a você. Tic-tac, bate o relógio. Isso tudo é culpa da sua imbecilidade, eu poderia não estar aqui, meu coração poderia ser seu, por que você o tornou sua casa?

Richard Foxx
Enviado por Richard Foxx em 31/08/2014
Reeditado em 31/08/2014
Código do texto: T4944796
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