Saudades de Mim
Rosa Magaly Guimarães Lucas
– Eire
Ah, quantas saudades eu tenho de mim
Quando me vejo a andar trôpega assim,
Quando olho, e não vejo mais direito...
Quanto me fere a alma e dói-me o peito
Por não ter mais à frente a amplitude
Que eu entrevia em minha juventude...
Que saudade me traz a minha infância
Quando tudo era em mim a doce ânsia
De tocar, conhecer, e desvendar
A vida, a morte, o sonho, o despertar!
Comigo havia então avós e pais
Que há bem tempo se foram... não estão mais
A me amparar nas quedas e nas dores,
A enfeitar-me os cabelos com flores
Multicoloridas, perfumosas,
De beleza sutil, igual às rosas
Que me faziam dormir e sonhar,
Tornando-me encantado o despertar.
Que saudades eu tenho dos amigos
De meu pai, minha mãe... fieis abrigos
Aonde eu repousava, e em descanso,
Por serem para mim doce remanso.
Eu vivia num mundo tão gentil...
A mim me parecia um céu de anil!
A vida era p´ra mim pista de dança,
E nela se volteia, não se cansa,
O corpo jovem, esguio, e resistente
aos embates da vida... é um combatente
a tudo que se oponha ao ardor
da mais sideral forma, que é o amor.