Pequeno poema lírico

Perdoe-me Desirée

por meus erros gramaticais,

pelos versos impacientes que tropeçam

nas esquinas das palavras

e nas metáforas dos verbos.

Por essas flores de outono

que se lançam a morrer ao vento

e que das folhagens das árvores

se agitam e se curvam

aos pés de tua sentença.

Pelo pálido exalar desses versos

que se iluminam e se enrodilham

na persistência de tua lembrança,

na sede de tua graça

e na fome de teu bem querer.

Perdoe - me Desirée,

perdoe – me por naufragar - me

em teus olhos oceânicos

e pela chuva de teus cabelos

sobre teu olhar extasiado.

Pelo feitiço de tua graça

e por esta fragrância margeada

de roseirais tão floridos.

Pelas janelas desses poemas

que sussurram ao vento,

e pelas pétalas cheirosas

dessas flores tão estranhas

as quais não estás acostumada

mas que todavia quiseram permutar

seus odores com os odores de tuas rosas,

assim como as cores das plumagens

dos papagaios coloridos

cujo vôo se insinua - se ao vento.

Perdoe – me Desirée,

perdoe – me por incendiar - me

na primavera de teu sorriso

e dela colher a flor mais bela,

por beijar os desnudos seios

da noite sem tocá-la

e gemer a madrugada acesa

entre os dedos aturdidos.

Somente porquê não estás acostumada

a que te dediquem poemas,

ou quiçá ,também não estás acostumada

com os mistérios da lua

que esconde - se ilhada

no céu de tua boca,

nem com a dança dessas palavras

que revoam agitadas

entre fontes e jardins.

Perdoe - me Desirée,

pela impaciência de meus dias

que amanhecem mais cedo

e que despertam na aurora das palmeiras

os trinados dos pássaros.

Por ouvir a musicalidade de tua pele

que queima o sol

de teus tambores polinésios

e que batucam e ressoam

no rosário dos maracatus

de meus tambores silenciosos.

Pelo ritmo tortuoso dessas ondas

que singram os oceanos

e que precipitam - se apressadas

nas batidas de meu coração.

Pela melodia de teus olhos

de teus olhos tão distantes.

Ah! Desirée,,. Desirée,...

teus olhos são estrelas

mas não brilham para mim.

Perdoe - me Desirée,

pelas noites desses jardins

onde a luz achegasse com sopro suave

entre os ramos de um queixume

que desfolha - se esquecido

a sombra de teu mar.

Pelo caminho de meus poemas

repletos de amores.

Pela poeticidade de tua formosura,

preguiçosamente deitada entre as linhas

de um poema alucinado

que subitamente estremece

no delírio de um orgasmo

com odor de urina e céu.

Apenas porquê a natureza te fez nascer

para povoar aos sonhos

ou quiçá , para que também talvez um dia

eu pudesse vir a escrever poesia.

Assim como um cutelo afiado

que rasga os corações dessas palavras

e faz escorrer o sangue,

a voz e a alma desse poema.

Do livro Fogo de Lua & outros poemas.Recife:UBE/PE,2004,p.79.

PS: Todos os meus poemas estão devidamente registrados no escritório de direitos autorais da Fundação Biblioteca Nacional/Rio de Janeiro/Brasil.

odmar braga
Enviado por odmar braga em 12/09/2005
Reeditado em 13/09/2005
Código do texto: T49955