Bete Tezine, Autorretrato, 2013.

A cura sempre virá...
 
Existem momentos nas nossas vidas que não há palavras que possam nos confortar. Nada do que possamos ouvir é capaz de nos trazer a paz de espírito de que tanto necessitamos.
Há situações que vivenciamos que nos causam uma dor tão pungente, tão latente e contundente que só o que pode nos desafogar o coração é um abraço apertado, um olhar compreensivo e um ombro para amparar nosso choro.
Não há o que dizer, não há o que ouvir, não há palavra que sare. Tudo fica embaçado, congestionado de dor e só queremos, na verdade, alguém que chore junto conosco, que misture suas lágrimas às nossas, que se cale no nosso silêncio e nos ouça com o coração.
Há dores tão doídas que abrem feridas latejantes na alma, fazendo jorrar sangue vivo, quente, ardente que escorre pelas arestas abertas dentro de nós, ganhando dimensões dilacerantes e impingindo sofrimentos que, só são amenizados, pelo entendimento calado que se vislumbra no olhar daquele que compartilha conosco da mesma dor.
O choro rola solto. As lágrimas escorrem queimando a face e colocando um gosto amargo na boca. As emoções se confundem. O medo vira desespero. O desespero vira desesperança. E, a desesperança, se torna carrasca da maior das amarguras experimentadas pelo ser humano: a descrença em seu próprio poder de superação.
Os pensamentos se aceleram dentro da nossa mente, atropelando uns aos outros e ganhando velocidades inimagináveis, tornando-se monstros prontos a devorarem a nossa própria razão.
Não se vislumbra mais nenhuma luz no final do túnel. Não se enxerga uma saída. Não se crê na calmaria que advém após toda tempestade. Simplesmente, nos entregamos ao desespero e deixamos que fantasmas, muitas vezes apenas imaginários, ditem as regras de conduta para nossas atitudes naquele momento em que parece que fomos expulsos da nossa própria existência.
São momentos de travessia. Momentos em que somos testados pela vida, a fim de que ela se convença de que somos fortes o suficiente para atingirmos a outra margem sem nos afogar nas mágoas e dores pelas quais fomos obrigados a nadar.
A vida não nos poupa, nos testa a cada despertar. Ela nos coloca em situações que, aos nossos olhos, são impossíveis de suportar. Porém, por mais que seja difícil, na verdade quase impossível, vislumbrar uma cura, mesmo que incompleta, podemos ter certeza de que ela virá.
Não há dor que não cesse. Não há medo que não se transforme em coragem. Não há fantasma que não evapore no tempo. Não há lágrima que não se transforme em riso. Tudo, a seu tempo, se transforma e nos faz crescer em força, fé e certeza de que por maior que seja a ferida, um dia ela fechará e se tornará, apenas e tão somente, uma cicatriz a nos lembrar que mesmo tendo jorrado sangue, latejado e nos causado sofrimento imensurável, ela nos deixou, unicamente, uma recordação de que fomos fortes o suficiente para dar a volta por cima, recolocar um sorriso no rosto, reabrir as janelas da alma e pegar nossas vidas de volta, muito maiores em força, esperança e certeza de que nada é para sempre, nem mesmo a dor