Máscara

Abro a porta do armário.

Ah não, que bagunça, quantas máscaras fora do lugar, despencando dos cabides, amassadas, enfurnadas dentro dos vãos da madeira, algumas rasgadas, nem servem mais para usar.

Preciso de uma hoje, agora, urgente. A platéia clama, o teatro me espera. Não me cabe mais nem uma, o espelho está torto, esse anda implicando comigo, embaçado ou ondulado, desfigura meu rosto, minha face torna-se mole, grande, pequena, partes que se esticam demais, outras diminutas, tudo desproporcional, um jogo de mau gosto, uma grande brincadeira com a minha cara, estou na sala dos espelhos.

Uma nova máscara. Afinal, não era isso que eu estava procurando? As dobras agarram na máscara que parece ter se encaixado no meu rosto caindo como uma luva, um tabefe na cara que o tempo me dá, me dobra, tento tirá-la, mas ela não sai, tomo banho, esfrego e lavo, quase me firo, esfolo a pele, parece que essa máscara é definitiva, meio usada com uns vincos que não fui eu quem fez. Mas é essa que vai ser! Abram as cortinas!

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 14/09/2005
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