Dá licença? Este canto é meu.

Cheguei com uma bagagem não muito volumosa. Letrinhas livres, frases inacabadas. Super leve, já que sonhos são leves e desobrigados de sofrimento.

Estranhei o local. Tão sisudo, seco, sem muitos olhos conhecidos.

Escolhi um cantinho onde pudesse me mover sem magoar e sem tirar espaço de outrem.

E fui me sentindo à vontade conforme o tempo passava.

Era muito gostoso trafegar com as almas presentes. Umas doces, outras ácidas, outras lunáticas.

Presenciei muitas montanhas tornarem-se planícies, muitos rios tornarem-se mares e muitos céus derramarem estrelas. Foi delicioso enquanto sonho. Foi prazeroso enquanto as setas ainda possuíam cor. Era tão confortável segui-las quando indicavam flores, sombras, aconchego.

Um dia, meio que sem aviso, o labirinto me tragou.

Eram Marias e Joãos diversos. Eram muitos e nenhum... E eu já não sabia quem eu era...

Me tornaria um pássaro sem asas? Uma ave sem pouso? E assim fabriquei minha couraça.

E apaguei as luzes do meu canto. E fechei todas as cortinas.

Agora, com a ventania da primavera, resolvi replantar as flores...

Mais perfumes, mais cores porque (felizmente) meu sonho não morreu...