respirando um pouco

Ainda falta muito e o ar ainda é pouco, mas ele voltou a existir. Faz pouco tempo que voltei a escrever, sonho adolescente que foi se quebrando conforme os anos vieram, e muito da vida é quebrada diante do cotidiano, lembrei de Maiakovski falando que a canoa do amor se quebrou no cotidiano pouco antes de escrever não posso mais, e ter partido. Ainda posso reconstruir essa canoinha, e a cada movimento de reconstrução vou pegando um pouco mais do jeito do que é a vida. Embora o desespero seja algo presente, não sei se o que escrevo interessa a alguém e acho que me falte aquele trabalho literário, aquela labuta que forja os grandes, talvez serei sempre aquele que não serviu para isso, e novamente vou perdendo o que queria falar e as palavras se geram espontaneamente, uma puxando a outra e convocando os salões do cérebro. Parece que as palavras, quando ditas, são minhocas cavando, e descobrimos um pouquinho, e respiramos um pouco, agora escrevo numa velocidade maior do que o pensamento pode se dar, escrevo como o louco bolando a fuga do hospício, como freira velha e virgem se masturbando escondida, tenho um profundo medo de mim mesmo, tenho medo da vida, me acho pouco frente a existência. Aguentar os sacolejos externos, dar a cara para esse mundo que nos é alheio dia a dia, e continuar isso em outro e outro e outro. Armar a resistência poética. Sei lá, as coisas simplesmente não fazem sentido, e esse buraco no peito seja o grande espaço de respiro. Reescrito. Reescrevo-me. Pouco a pouco as palavras vão tomando meus pés, peitos e pinto. Pouco a pouco o phoder da vida ressurge. Ressurgimos, quero sua mão. Vamos? Embriague-me, e já me perdi