As portas do tempo

Tempo Rei!/Oh Tempo Rei!/Oh Tempo Rei!/Transformai as velhas formas do viver/Ensinai-me,Oh Pai! o que eu, ainda não sei/Mãe Senhora do Perpétuo Socorrei!...Gilberto Gil
 
     Houve um tempo florido, tempo de portas entreabertas, timidamente deixando entrar a luz. Era um tempo de descobertas, de autoconhecimento, de aprendizado constante. Nesse tempo, o amor chegou e se espraiou por cada cantinho, mostrando o quanto a vida podia ser bela e como ele, o Amor, podia ser o início, o meio e o fim de todas as coisas.
     Mas veio, em seguida, um tempo cinzento, sombrio, triste. Um tempo de apenas se deixar levar, de cansaço e solidão, de ausência consentida da coragem, tão determinante e necessária em tudo em que acreditava e lutava. Nesse tempo as portas se fecharam, negaram a luz e o silêncio se fez, guardando consigo a música das risadas, o brilho do olhar, os sonhos, a esperança. A noite se fez dia e o dia se fez noite e muitos sóis e luas se passaram. O tempo cinzento parecia um longo inverno e nada anunciava a primavera, ou que haveria mudanças.
     Porém o próprio tempo se encarregou de mudar, de colorir os dias, de arejar os ambientes, de reabrir as portas do tempo e houve, finalmente, o tempo do reencontro consigo, de festejar a beleza da vida. Nesse tempo, a alma, cuja essência era a alegria e a coragem, ousou romper as sombras e desenhou para si um novo amanhecer. As portas agora e em definitivo, estão abertas para a poesia da vida plena, para o sonho e a esperança.No tempo presente, saúda o tempo como irmão, como o sábio que vê e ouve, mas silencia, pois sabe que serão dele todas as respostas.