Alguns Momentos

Nem sei mais o que sou! Se é que sou, ou, quem sabe(?), ainda serei. Só sei que amo, mas não sei se amo, só sei que a vida corre estática... se move como um lago... Sei que a vida é esquisita. E sei que o mundo não gira. Quem gira em torno dele sou eu! Quem me dera se o mundo girasse em torno de mim! Sei que o amor deveras se sente e se vive puramente na mente, que, mesmo sem amar, se ama, que, mesmo sem chorar, se chora e se ri, mesmo sem alegria.

Não sei o que é a vida, só sei que é viva, não sei o que toma o nome de morte (pois não a enfrentei ainda), mas um dia, sim, um dia, saberei quem é a morte, pois que nasci predestinado a ela. Nem sei do meu amanhã, por isso mesmo que ele me provoca, e por vezes me deixa o sabor da ânsia, a prisão do medo (que me pára no tempo), e por fim me tira o hoje.

A vida corre sem sair do lugar, anda e caminha muito, muito, muitíssimo devagar; na verdade, quem corre é o tempo, a vida não passa num piscar de olhos, e nem é sequer um sopro da eternidade, a vida é tão somente a vida, que é viva.

E eu disfarço minha identidade p’ra poder tirar de mim o peso do que irei escrever. Chamo-me João, João Nobre. E gasto (ou ganho) parte do meu tempo a pensar e devanear sobre a vida e os seus frutos e os seus acontecimentos e as suas incertezas e as suas certezas e... Caio, derramo-me e deixo-me flamejar sobre o papel, p’ra ver se de alguma forma me entendo e, me entendendo, entender a vida.

A vida... talvez viver a vida sem entender, mas meu ser não consegue sossegar ante as dúvidas, temores, incertezas... Minha mente indaga o porquê do amor, da dor, da solidão... Minh’alma clama por si e quer se encontrar. E esse sol frio que se instala sobre mim, e esse dia que é noite fria, sem estrelas, taciturna, solitária... e esse sentimento de posse, de ser dono do mundo, posto que todo homem um dia sentiu que o mundo era seu, e esse crepúsculo de alma... me levam leve... para onde não sei!

E os pensamentos começam a cair em gotas de tinta, em linhas de tinta, em palavras..., dispersos, e é minha obrigação colocar-lhes sentido e razão. E já começo a sentir o peso do que vou escrever e sinto que tenho em mim o clamor de todas as eras e de todos os impérios... dos gregos e dos bárbaros, dos cristãos e dos pagãos, sinto em mim o clamor dos cristãos... Um grito sufocado, reprimido, contido, cativo em meu peito, um grito sem som. Sinto beijar minha face o abismo, e me lanço... Caio... caio... caio... e o eco da minha queda se faz ouvir através do papel e do céu da alma....

O vencedor deu-se por perdido, e, nestes dias em que a derrota é inevitável, o amor não existe (a não ser que esteja oculto), a paz é escassa, a transgressão é abundante... O homem, esse indiferente homem, caminha... caminha sem saber aonde chegar, p’ra onde ir, de onde veio... Nem sabe se é verdade o que contam, e mesmo que soubesse não teria coragem de acreditar, crer é um ato de coragem!

Tenho medo de escrever o que é preciso, por isso demoro. Medo de me expor e mostrar ao mundo o que vejo, e sei, tenho certeza, que não só eu o vejo! Sei que vejo o mundo, e outra vez caio... , mas desta vez não me derramo nem me flamejo, agora o silêncio é absorto e não mais um grito. Penso em desistir, penso em não mais escrever o que vejo, e agora nem sei mais se vejo... E se vejo o que vejo?

Volto a mim, e tento escrever os fatos que se deram, mas, antes de tudo isso acontecer, minha mente já premeditava, com certo presságio, algo parecido: parece-me que já vivi o que vejo. Não que acredite em outras vidas, porque não tenho coragem para acreditar. E mesmo que tivesse não o faria: sei da verdade!

Sei que vou falar de mim, porém, esse “eu” é alguém que vive fora de mim e captura sensações e loucura e não é hipocrisia, esse eu se parece mais comigo do que eu mesmo, esse eu que cheira e transpira original, esse eu que tem adjetivos próprios de mim... Estou perdido diante de tantos acontecimentos e não sei se se deram em minha mente, em meu sono ou em qualquer um dos meus constantes devaneios. Só sei que posso tocar os fatos e as reminiscências...

E vejo que tudo isso é um absurdo, uma loucura que quer de qualquer maneira demonstrar epifania, mas na verdade já existe o saber de tudo, bem antes do início, quando não existia a ciência e seus homens tolos. A ciência, essa mãe, essa meretriz, essa que rouba a fé e coloca o homem sob elucidações sem razão, essa que acredita em bilhões de anos e me leva, ou ao menos quer, ao abismo das dúvidas, de onde, por mais força que exista, é impossível sair.

Porém, apregoam por aí que existe gente que ame o impossível, mas eu em minha humanidade não consigo crer que se possa tirar proveito do que é impossível, do que minha mente pequena não pode capturar. Mas a ciência, mãe da loucura, pode tudo. Até mesmo dizer que o homem existe por si. Oh! Tolice dizer que existe vida por si.

Responda-me, ciência, quem inventou o Logos? Quem é a Arché? Ciência, prostituta, no juízo final você há de prestar contas desse teu orgulho, ciência obscura, até quando você vai querer voar além do que seus olhos podem ver? Tola, sabe que não pode e não tem poder p’ra explicar o Universo, sabe que só supõe!

Todo o caos do mundo tem seu início em ti, oh, ciência, pois mataste o que há de bom no homem: a fé!