AO APAGAR A LUZ DO MEU EXISTIR

Ao perceber que a luz de minha longevidade está prestes a se apagar mergulhando no horizonte da inexistência. Eu aproveito os últimos momentos que antecedem o meu ocaso, para uma retrospectiva do meu viver no quintal da minha vida. Por alguns instantes eu volto no tempo, em uma viagem retroativa, a conviver de novo com os murmúrios da natureza, que no passado me inebriaram a alma e o coração de jovem. Minha imaginação põe-se a levitar na brisa levada pelas asas da saudade. Sorvendo o cheiro das flores de laranjeira e da terra molhada ao cair às primeiras chuvas, quando aquecida pelo sol, a terra nua tombada pelo arado de boi, obedecia à automatização da natureza, quebrando a dormência das sementes que se ajoelhavam referenciando a chegada da primavera, e com isso, a magistral, flora silvestre entrando no seu ciclo reprodutivo  gestava sua biodiversidade.
No cio, as aves do céu a construir seus ninhos para dar sequência à posteridade. E ao longe no profundo silencio do entardecer, na voz da historia, ouço o despencar da água na bica, e as pancadas do monjolo, as cachoeiras, rolando pedras, e o açoite do vento arrogante carregando as folhas secas descartadas pela mata. Enquanto rios e lagos a bocejar cobrindo as veredas com a cortina da branca neblina, vinha do além carregado de magia o sereno a orvalhar campos e prados.
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 04/12/2014
Reeditado em 15/02/2018
Código do texto: T5058310
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