E o vento
Então eu encontrei. Um último fôlego do ano. Pra dizer, reticente, relutante. Não cabendo em mim: eu quero viver! Sem amarras, sem horários. Sem soluções de última hora. Apenas viver para ouvir o canto dos pássaros. O ranger das folhas dos livros. Molhar os dedos com o canto da boca. Folhear mais páginas de vida! Não quero dores nas costas de stress. Não quero resultados místicos de tratamentos alternativos. Não quero cobrança excessiva por sucesso. A cobrança interna que todo ser humano faz em pleno século XXI. Aliás, quero mais um século de vida! Pra dar tempo de eu me comportar. E me portar como alguém. Alguém, assim, tão desprendido. E desmedido. Mas é apenas um último fôlego. Um sussurro de socorro. Eu preciso viver lá fora! Debaixo dos galhos das árvores. Sem ruídos de pessoas apressadas. Sem amarras que me prendam aqui. Na contagem insana de tempo. Na falta de tempo. Eu quero vida. E o vento.