PÁGINA SOLTA DE UM DIÁRIO


Corujas cansadas da vigília, soltam meu sono e batem suas asas... A noite que calou meu mundo passou antes do último gole de chá, mas esqueceu de devolver as vozes do dia.
Os anos espreitam meu sorriso claustrofóbico na espreguiçadeira da varanda tediosa... Apontam meu destino com ares inquisitórios, acoando os solfejos d'uma prece em construção.
O despertador emudeceu prematuramente a pressa matutina, não há mais brinquedos ou toalhas espalhadas pela casa; a mesa tornou-se figuração esquecida de uma novela que teve o fim antecipado.
O café perdeu seu gosto, as torradinhas perderam a graça, o forno se aposentou e as tradições hibernam nos armários da copa.
Agora virou rotina engasgar-me com a transparência infinda na piscina impenetrável.
O relógio avança, algo em mim parte, logo dissolve. Pétalas do livro da vida somem naturalmente a cada segundo... Vou perdendo centelhas mudas a cada hora que passa!
Rostos disformes contam fatos inéditos, avivam ilusões inauditas nas fotografias desgastadas por gotas de arrependimento e amargura.
Poemas e cartas que nunca serão enviados acumulam na gaveta sentimental, com travas e trancas desnecessárias...
Quebro todos os espelhos!... Mas o tempo ainda me acusa a cada tropeço no tapete da sala.

Christinny Olivier






























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Christinny Olivier
Enviado por Christinny Olivier em 26/12/2014
Código do texto: T5081336
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