1987

(Com inspiração na música "Prisão das Ruas" do Grupo Ira!)

É bem provável que eu tivesse bebido demais. O bar estava cheio. Você me tocava, me olhava... não lembro qual música a banda cantava quando, enfim, nos beijamos. Não lembro quem eram as pessoas ao nosso redor. Parece-me, agora, que elas eram apenas sombras. Não pessoas. Um silêncio magistral fazia eco dentro da minha cabeça. Mas havia a banda tocando. Havia a multidão dançando. E nós? Não consigo lembrar o que acontecia naquele exato momento. O que as pessoas conversavam, se riam. Por alguns minutos esqueci da minha realidade e mergulhei no silêncio do momento mágico em que eu e você nos beijamos. Momentos silenciosos foram aqueles. Mas isso eu lembro bem: o sabor de sua saliva misturada à cerveja e cigarro. Sua língua lambendo a minha. O seu abraço, suas mãos segurando meu corpo com avidez e volúpia. Sua voz rouca em meu ouvido a dizer que sou louca. Doida! E eu me sentindo louca por você, desejando você. O resto todo se apagou de minha memória. Só eu querendo mais. Mas eu sei que é só isso. Só um beijo. Só um único e marcante beijo para guardar. Na boca, no corpo, só não no coração... na vontade, no desejo por mais beijos, por mais que beijos...

Mas há um outro dia. E outro e depois outro e assim, passaram-se vinte anos. E quando enfim abrimos a porta, é nossa realidade quem batia. E é isso aí!