DE MANHÃ

De manhã, muito cedo na neblina, uma luz coada em sombras vítreas. Havia uma beleza original, parecia original. No entanto, múltiplas manhãs estavam na memória e eram as mesmas sombras, a luz filtrando a névoa em nódulos suspensos na atmosfera. Os românticos gostam de descrever a natureza. Eu apenas vejo das janelas os barcos, a ondulação, no areal as gaivotas cantam. Nada mais. Nesta altura do ano sentimo-nos exilados frente ao mar, aí começa a tal beleza - experimentada na solidão do espaço agora imenso. Soletro frases banais, algo já muitas vezes dito, uma teoria sobre a morte, talvez algum raciocínio que explique a felicidade. Até quando anoitece.