Isso não pode virar amor
Moça. Era só pra dizer que me apaixonei por você sem ao menos te conhecer direito. Eu sei. É estranho. Muito estranho mesmo, pra falar a verdade. É que naquele dia, a sua fragilidade sob meus braços me entorpeceu. Não se preocupe. Eu não me importo se você mora longe. Em outra cidade. Em outro estado. Não me importaria nem se você morasse na China. O que interessa é essa paixão platônica. Sim, paixão. Não quero que isso vire amor. De jeito nenhum. Se virasse, eu teria que largar tudo para ir atrás de você. E se, ao chegar ai, você nem lembrasse de mim? Ou pior. E se você lembrasse e me correspondesse o amor? Poderíamos ir morar juntos. Casar. Ter filhos que seriam a nossa cara. Eu acordaria todos os dias ao lado de seus olhos verdes. Não. Não posso conhecer seus defeitos. Não posso deixar você conhecer os meus. Isso não pode virar amor! Não pode virar rotina. Pois é isso que o amor é. Rotina. O que temos, é demasiadamente sagrado para cair na mesmice. E se ficássemos realmente juntos, você poderia me deixar um dia. Levar nossos filhos. O cachorro. Ficar com a casa de praia lá de Búzios. Não posso correr esse risco. Não suportaria ver você indo embora. Por isso, por favor, me deixe aqui. Sozinho. Com minha paixão. Idealização. E com minhas expectativas em relação a você.