Hora grande, hora pequeno - Assim como é o amor.

As noites raramente prometiam algo além de silêncio, inquietude e medo. Elas passam como uma nuvem que projeta uma sombra sobre o dia para nos fazer lembrar que o sol, apesar de exageradamente quente, é bom, pois ilumina os caminhos que somos incapazes de ver no escuro. Eu por outro lado tinha a noite como companheira fiel, escudeira honrável e amante secreta; era nela que eu escrevia meus poemas e pensava no amor que talvez jamais existiria. As palavras de ação pareciam mais bonitas a luz da lua, que era a única que parecia iluminar relativamente bem às pautas que a luz da vela deixava translúcidas.

Certa noite eu acordei, a noite não prometia nada como sempre, estava escura e inquieta... No meio de tantas sombras eu encontrei uma pequena lanterna acesa que piscava em minha direção. Aproximei-me. A luz que antes alva confundia-me a vista revelou-se maior do que minha mente havia mensurado. O brilho incandescente não era de lanterna alguma, não era um farol, sequer era de um anjo com asas emplumadas e lindas como a mais doce nuvem... Pelo contrário, era de uma mulher simples e cativante, cujos piscares luminescentes eram emitidos pelo seu sorriso que me comovia imensamente. Entre brincadeiras eu a descobri, se em seus deboches me mostrava roupas que não usava e falava orações insanas, entre suas poucas palavras e numerosas perguntas ela sorria por minhas outras orações repletas de brincadeira... Eu não havia encontrado um anjo, mas na minha frente estava um pedaço do paraíso.

Entre brincadeiras idiotas e sorrisos bobos eu descobri o que era o amor, este gigante palhaço que teima em assustar, mas também em fazer rir por qualquer coisa idiota que cruza o caminho daqueles que afeta. Este pequeno polegar que de alguma forma entra quando inspiramos pela primeira vez o perfume do ser amado e nos torna completamente idiotas, nos imprimi o mesmo rótulo de gigante palhaço que outrora tinha o amor. Hora pequeno, hora gigante, este é o amor em suas eternas contradições.

Mas voltando o assunto principal, eu e minha lanterna, eu pude descobrir com o tempo que passava arrasador em pequenos pedaços de vinte e quatro horas que a paixão é como a chama da vela que mais ofusca a folha que transpassa e a letra que assombra e o amor é como um farol piscando na direção da felicidade. Não importa o que falam os poetas sobre a dor do amor, o amor não dói e tampouco é fruto de tristezas, o gigante palhaço já virou poeira quando isto cisma em acontecer. E se doer, é uma dor cativante e repleta de prazeres que somente os pares podem realmente entender... É como um chocolate, podemos explicar infinitamente seu gosto, mas só aqueles que provam sabem o prazer que é cada mordida.

Talvez cada amor tenha o seu tamanho e reduzi-lo ao binário seja imprudência tamanha, talvez cada parte deste fruto de forma tosca, mas extremamente bonito, venha com uma ampulheta que determine seu começo e seu fim... Mas isto realmente não importa, pois o diminuto “ser” irá entrar na sua inspiração, tornar-se um gigante bobalhão que te alegrará, te tornará a pessoa mais feliz do universo e você irá para sempre querer ter esta lanterna dentro do teu peito. E se um dia acabar e trouxer a ressaca de um amor mal amado, saibas tu, que novos faróis se acenderão e novos polegarinos irão adentrar em tuas vias e te arrancar, novamente, sorrisos e risadas estridentes... Hora grande, hora pequeno, assim contraditório como deve ser, como Alice naquele estranho país que é repleto de maravilhas, como é o amor.