De novo

Nesta balburdia de falta de tempo, no paradoxo de um tempo que se multiplica, você se decepciona, se frustra, porque tem que abrir mão. Não há dor maior, desconforto mais insano que o de tomar uma decisão. Escolher um único caminho dentre tantos. Você queria a carreira, ser saudável, ter qualidade de vida, ler mais, estudar mais, aprofundar-se. Você queria trabalhar e obter êxitos financeiros, construir mais um degrau de sucesso! Mas para isso acontecer você tem de abrir do descanso, da desforra, do tempo. Abrir mão de velhos sonhos, outros tantos projetos mais. O mundo exige um foco único, ainda que em múltiplas funções. Algumas, no entanto, são inconciliáveis. E aí fica difícil conciliar-se consigo mesmo. E as dores surgem, nas pernas, que rumam sem muita convicção, nos joelhos flexionados, nos ombros encolhidos. A pior posição é o meio do caminho. Nem tão longe do final, nem tão perto do início. Apenas pó e angústia à frente, atrás. É como um ballet frenético de principiantes. Tortos, dessincronizados. A vida é pra os principiantes. Justamente aqueles que ousam. Os que dizem não ao conforto, os que investem no desconhecido. E desbravam. E erram. E levantem para dizer: eu nunca me arrependi! O que me espera? Talvez um caminho tortuoso, de mais angústias, de mais desprazeres, insônias, frustrações. E eu mal posso esperar. Porque se isso constitui a essência de viver, então eu prefiro mudar sempre. Quem sabe eu nunca encontre o que procuro. Quem sabe o desconhecido transforme-se em tédio. Mas antes do coração se aquietar, eu vou de encontro ao novo. E se o novo não servir? Eu procuro outro novo. De novo.

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 16/02/2015
Código do texto: T5139491
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