RECLUSÃO

Sou puro instinto, quase um extinto sonhador

junto palavras, misturo idéias, faço colorida minhas noites de terror.

Cada minuto aguardando o sono, um, dois, três remédios me indicarão,

esqueci da lua, da minha, da sua, de todos, essa madrasta solidão.

Quase quieto sinto gritar minha esperança, tantas rimas...

minha vingança, minha herança, sentença de morte postergada.

um menino não carrega culpa alguma, se encarrega de criá-la,

um peso morto indecifrável, um erro irresponsável, uma morte disfarçada.

Pelos cantos ergo um olhar vazio, perdido, calado entre dúvidas,

deixo meu coração falar sob os cuidados da razão,

são dois leões que me cercam e sem devorar-me, me ignoram.

Na praia, as marcas que vejo no passado, dois pés na areia, passo a passo,

ainda criança, no arrasto dos joelhos, até se levantar, apenas dois pés caminham dia e noite.

Oh madrasta solidão, se como mãe não me alimenta, pelo menos inventa, uma música que me brinde, um amor ou um tempo maior de reclusão.