Pôr de Lua
A lua encheu
O peito de pranto
tornou-se triste
e sempre em crescendo
ficou morta de cansaço.
A noite era fria
O céu envergonhado
Mas a bramir por vingança
escondeu-se noite adentro
e cabisbaixo ficou.
Ela, tipo contraluz
estava como sempre
fulgurante,bonita.
Os olhos mantinham-se
Expressivos
sinceros
solidários
e cinzentos.
No rosto um sorriso resgatado
Despontado a nascente
quedou-se no tempo, de um
O corpo afável e terno que prometia
esconder a lua dentro da pele
se necessário fosse.
Na cidade
encerravam ocorrências
e lojas de pronto a vestir
onde os autocarros apinhados
teimavam em deslizar.
Na rádio uma cantora rouca
De voz mal cocada
deitava fora uma canção
em que falava de um sol redondo.
Anunciava-se ainda
Uma nova marca de chicletes
Um brutal aumento da gasolina
E mais uma fábrica que encerrava
Desta vez em Paços de Ferreira.
Nas ruas protestava-se
Não contra o desemprego
Mas porque o fulano de tal
que marcava muitos golos
na terra dele
já não vinha para o Benfica.