Capítulos de você

Seu último poema dizia que a primavera traria em retribuição as flores que o outono retirou. Enxerga? Cá dentro ainda é inverno. Trocaria toda essa erudição e frases feitas por conversações modestas, que não exigissem disposição para captar o sentido de enigmas. Rabisco palavras desprovidas de sentido, me pego rimando e concebendo versos tolos. Vou gastar meus clichês, exaurir reações emocionais, desperdiçar ironia e assassinar as dúvidas. Se não dá pra transformar em exclamação, recuso. Sinto aversão à incoerência, mas ela me idolatra. É uma questão de amor e ódio onde, de modo invariável, saio vencida. Meus textos não tem sentido porque os desejos seguem em sentidos contrários. Há um elefante branco, uma caixa de lápis de cor e milhares de coisas sem préstimo aqui dentro. Fico concebendo associações, buscando lógica e dominação. Não atinjo nada disso e me levo ao fracasso. Despedaço as pontas de todos os lápis: é inverno e não é adequado desenhar nenhuma flor. Irá render metade de uma página. E eu queria um livro inteiro, sete ou treze capítulos de você.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 16/03/2015
Código do texto: T5172389
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