Somos nós
Fomos nós que pensámos não ter voz
Que pensavamos não ter corpo
Nós que frequentavamos as prisões
Que éramos censurados em cada gesto
Em cada passo
Nós a quem a mordaça feria fundo
Sempre ao som do bastão
E do capacete de aço
Nós que nos reuníamos em segredo
Que prostituímos o corpo
Por Franças e Alemanhas
E onde nos davam o ordenado
Nós que semeámos Alentejos e AlémTejos
Nós que exploramos as minas
e somos explorados
Sempre a bater na bigorna
Sempre a contar o ordenado
Nós que fazíamos as greves
Cada vez com mais razão
Que uma manhã
Uma madrugada
Rasgámos os punhos ao cheiro de um tejo novo
E caímos esperançados nos braços
dos soldados de Abril.