Somos nós

Fomos nós que pensámos não ter voz

Que pensavamos não ter corpo

Nós que frequentavamos as prisões

Que éramos censurados em cada gesto

Em cada passo

Nós a quem a mordaça feria fundo

Sempre ao som do bastão

E do capacete de aço

Nós que nos reuníamos em segredo

Que prostituímos o corpo

Por Franças e Alemanhas

E onde nos davam o ordenado

Nós que semeámos Alentejos e AlémTejos

Nós que exploramos as minas

e somos explorados

Sempre a bater na bigorna

Sempre a contar o ordenado

Nós que fazíamos as greves

Cada vez com mais razão

Que uma manhã

Uma madrugada

Rasgámos os punhos ao cheiro de um tejo novo

E caímos esperançados nos braços

dos soldados de Abril.

lucianobarata
Enviado por lucianobarata em 07/06/2007
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