O DIA DAS MÃES DAS QUE FORAM DESPOJADAS DE SÊ-LO

Drummond numa poesia, disse que não entendia, porque Deus permite que as mães se vão. disse que fosse ele, o dono do mundo, baixaria uma lei, que mãe nunca morreria e que ficaria eternamente entre nós e que seus filhos, embora velhinhos seriam sempre pequenos, como pequenos grãos de milho e caberiam sempre na palma de suas mãos.

O poema é lindo e lastima a perda de um dos entes mais querido que se pode ter, a nossa mãe. Todavia, o que dizer da dor que lancina o coração de uma mãe quando esta perde, seus filhos. Pode haver dor mais cruel? Há perda de um ente querido, sempre é difícil, o que dirá perder uma mãe, porém muito pior é perder seu próprio filho. Trata-se de uma inversão de valores. Como se o mar desaguasse no rio e não o contrário, ou como se as águas subissem os morros e não descessem estes. O dono do mundo, da vida, seja lá quem for, jamais deveria permitir que uma mãe que deu a vida ao filho, que foi sua porta de entrada a este mundo e que por esta porta, ele deu os seus primeiros passos, descobriu a vida, a ternura, as regras da convivência e as lições de amor, possa enterrar o seu próprio filho. Filho é tudo para uma mãe, é porto, é abrigo, é esperança, é luz, é sua forma de crer no mundo, sua missão, o caminho que seus pés não poderão dar, mas que darão através dele, é conquista, é a razão e é a extensão da sua própria vida. Enterrar um filho é como enterrar-se a si mesmo. Um pedaço seu, não menos que o seu coração.

Eu repito Drummond e pergunto como pode Deus permitir que isso aconteça? O que é um dia das mães para uma mãe que perdeu seus filhos? Será o dia da dor das mães. O dia das lágrimas e da alma sufocada das mães. Tão difícil perder um filho, que quando acontece, a palavra mãe passa ser evitada, como se fosse algo impuro, que lhe traz recordações deveras amargas. Eu me apiedo e me condoo com todas as mães que no dia de hoje, nada

tenham a celebrar e lastimam mais do que nunca, terem perdido seus filhos, muito embora, tenham redescoberto a coragem de encarar a vida, adquirido forças para seguir vivendo. Porque esta força, existe no coração das mães, este fertilizante que fortalece o espírito, que nasce dentro delas, feito pelas lágrimas que delas caíram.

Fosse eu o dono ou ao menos o gerente deste mundo, não permitiria que os filhos morressem antes dos pais. Estes, já anciãos, seriam arvorezinhas indefesas e seriam cuidados por seus filhos, e quando partissem, teriam o prazer de ver seus filhos criados, os netos em crescimento e assim, embora tristes, morreriam com a satisfação do dever cumprido. Quanto aos filhos, embora chorosos e inconsoláveis, entenderiam que isto é o destino de todos nós e parte irremediável da vida.

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 10/05/2015
Reeditado em 10/05/2015
Código do texto: T5237176
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.