A atração se distraiu

Ela queria, ele se defendia. Insinuava e recuava. Mas a companhia era constante para quase todos os instantes. As palavras ditas eram compreendidas integralmente, porque estavam sempre em sintonia, em harmonia. Pensamentos sincronizados, como se fossem univitelinos. Identificação generalizada era a definição para aquela relação tão intimista. Todos falavam, um amor existe ali. Existiu? Talvez, camuflado, subtendido, nas entrelinhas do não-dito. Um sentir expresso de forma subliminar. Aqui e ali, revelado num gesto, num olhar que dizia "olhe, estamos aqui, e aí?" Numa espécie de fuga de si mesmo, ele saía pela tangente, rejeitava o óbvio à sua frente. Fazia o jogo "quero, não quero". Rejeitou, rejeitou, até que a atração se distraiu, se contraiu, de tão contrariada, sumiu. Sumiu? Não, digo, saiu pra passear. E nesse passeio, claro, outras paisagens, outras pessoas desviaram seus caminhos. Experimentaram outros pratos, outros cheiros, outros sabores e gostaram. Ficaram longe e não mais se aproximaram. Nada mais além de um abraço casual, de um "tô com saudade" e ponto final. Não, não o final do fim da história. Um ponto parágrafo de um texto em construção, coerente com um enredo interrompido por alguns anos de separação, à espera de seus  personagens de férias pra dar continuação. Cansados, se aquetaram e ao se verem novamente, se inquietaram, como tinha que ser. Perceberam que tudo estava ali, intacto, como um tesouro bem guardado. Se revisitaram e se reconheceram. O mesmo prazer, o mesmo querer, o mesmo sorriso espontâneo ao se verem e se perceberem tão iguais nas suas singularidades. Novamente a necessidade de compartilhar belezas e sutilezas. "Você precisa ouvir essa música, porque é a sua cara", ou "Eu trouxe esse livro pra você ler. As páginas estão marcadas." (...) "Eu sonho isso pra você..." Ao se afastarem, por instantes, ele a segue e diz: "Não consigo ficar longe de você." À noite, ele povoa seus sonhos impossíveis. E ela lamenta o desencontro, o "quase" e o "nunca mais".
 
E para eles O Teatro Mágico canta assim...


Você me bagunça, tumultua tudo em mim
Essa moça ousa, musa, abusa de todo meu sim
Você me bagunça e tumultua tudo em mim
Mira e joga baixo, eu acho, nem sei,
Só sei que foi assim....
Rosimayre Oliveira
Enviado por Rosimayre Oliveira em 25/05/2015
Reeditado em 25/05/2015
Código do texto: T5253974
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.