Eu e as palavras

Nas palavras o enfeitar de meu eu solitário,mas o que sou eu?Talvez um rastro de ilusão.Talvez um pouco de dor em vão.Sei que nas palavras encontro o bálsamo e as ataduras.Só sei que nas palavras vejo a minha quarta,quinta dimensão.E na tela branca posso pintar o escrever-te.Pra quê escrever-te?Demasiadamente estúpida e infantil,afinal,sou um mistério para mim mesma...e revelar-me a ti sem porquê?Porquê?Se tivesse a resposta não teria construído essa tela de momentos ininterruptos de loucuras e ilusões perdidas.Não espero sua resposta,nem sei se ainda te quero!Quero a imbecilidade de um papel em branco,de uma tela em branco,de um céu em branco,de uma vida virgem!Na inocência do criar poder almejar escrever-te o que nunca ou sempre foi escrito.Seu sorriso,seu olhar,nada podem me falar do que a tolice dos signos já não tenham me dito.Infantil loucura de viver e amar.Não amarei mais,a linguagem será minha companheira,meu lugar,meu eu.Sofrequidão de não entender o que eu mesma falo,imaginação de louca varrida.Dizem-me sensual.Serei mesmo,eu?Sou a minha essência...nua,crua.Talvez aceite o meu eu.Talvez não.Que diferença fará?Nenhuma.Todos os caminhos e destinos me levarão à solidão das palavras.Meu dom e meu castigo.E de ti?Nada levarei.Porque a dobra do tempo nada mudou e continuas a tua essência que me enoja e me escraviza.Me silencia e aprisiona.Meu silêncio,a tua dúvida.Meu horror.Correndo por vales e parques buscando a folha certa para escrever-te o poema ideal,no final.Talvez a encontre.Perdida.Tolida.Colhida.Sei afinal que nunca e sempre são o instante,esse instante que jorra leite,esse instante que é meu presente,agora.Não sou tua,nem dele,nem minha.Sou esse instante de agora em diante.Irmã do sol e da lua.Buscando o dia,chorando a noite.Branca,branca.Talvez calma,talvez sua.Talvez alva,talvez jaula.Na única certeza da minha palma a alma que medita e escrita se torna selva e existe,em algum lugar,resistível,infalível.