O que éramos

As cartas foram rasgadas.

O amor, que parecia infinito, se desfez em segundos.

Não éramos tudo o que imaginávamos.

Não éramos nada.

A saudade despida de todos os dias

Estava instalada num dos cantos da sala.

Lá, onde muitas vezes amanhecíamos sem nos dar conta das horas.

Não tínhamos pressa.

Não sabíamos que o tempo passava tão rápido.

Tecemos nossas histórias com esmero de criança que faz o primeiro desenho usando lápis de cor.

Não tínhamos como saber que esse capricho seria a única lembrança em nossas memórias distantes.

Não sabíamos de nada.

Agora, em meio à agonia de existir

Vagueio entre os gatos

E, no meio da tarde, gateio-me no quarto escuro

Como se quisesse ressentir o que não tem mais volta.

Acho que a caneta, o guardanapo, o bar onde escrevíamos poemas em letras adornadas

Tudo deve ter morrido um pouco com os ponteiros das horas que não sabíamos que passavam,

mas seguiam feito trem bala para lugar algum.

Restamos distantes e incomunicáveis.

José sem Maria.

História sem fim.

Restamos abortados, como o filho que não deixamos vir.

Como as palavras que calamos para dar espaço a um silêncio maior que nós.

Maior e incansável no ruir da tristeza que nasceu daí.

Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 30/05/2015
Código do texto: T5260419
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