Segurando lágrimas
 
São tantos, os momentos em que na vida, nos deparamos com aquela vontade enorme de chorar. Um grande nó vai se formando na garganta, que parece que engolimos um nó de cana, e ele ficou entalado no meio do caminho. Grossas gotas salgadas, igual cachoeira formada pelas águas do oceano insistem em cair pela face abaixo. Enquanto a água salgada verte a dor que trespassa o peito, o pensamento martela em cima do machucado que relaste nas estradas da vida. Mas, quando percebe que alguém se aproxima, tratamos logo de  tapar a nascente que transborda nossos mais íntimos sentimentos, sejam alegres ou tristes.
Por que somos assim? Por que impedimos que nossa nascente jorre a água produzida pelos nossos sentimentos? Vergonha de demonstrar fraqueza? E quando estamos alegres a ponte de chorar, por que escondemos também?  Por que seguramos tantas emoções dentro de nós?
Ouvimos muito: _ Homem que é homem  não chora. Eles são desprovidos de lágrimas?
Desde quando choro é sinônimo de fraqueza?
Fico incomodada quando vejo alguém pedindo pro outro parar de chorar. Só ele sabe o que está sentindo naquele momento. É justo alguém pedir que você estanque o que lhe está aliviando o peito?
As dores que chegam aos nossos corações são extravasadas pelos olhos em formas de gotas.
Quando Madalena adentra a casa de Simão, derrama as lágrimas de sua dor, do seu remorso e Jesus não a repreende, Ele simplesmente diz: “ Simão, entrei em tua casa e não me deste água para os pés. Ela porém, os banhou com suas lágrimas e enxugou com seus cabelos”.
Justo é que se chore, quando o coração está cheio de dor.
Justo é que se chore, quando sentimos a dor alheia
Que procuremos segurar nossa arrogância, nossa maledicência, nossa prepotência, nossa avareza, nosso orgulho, nossa insensibilidade, nossa insensatez e tantas outras mazelas.
Lágrima não, essa pode deixar jorrar, o coração fica mais leve.
Estamos escondendo tanto as nossas emoções que acabamos por nos tornar incapaz de ajudar alguém a chorar sua dor.
Se não pode chorar a dor alheia, pelo menos  as respeite.
 
 
Élia Couto Macêdo
Enviado por Élia Couto Macêdo em 08/06/2015
Reeditado em 08/04/2020
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