De quem é a praça?

“A praça, a praça é do povo! Como o céu é do Condor!...”. (Castro Alves)1

De quem é a praça?

Não! Essa praça não é do povo!

Essa praça é do “sem-teto”

Que dorme ao relento

E acorda com o sol a queimar-lhe o rosto.

Essa praça é do Bem-te-vi

Que tenta beber e se banhar

Na fonte sem água.

Essa praça é da estátua carcomida pelo tempo

Que já não tem identidade.

Essa praça é dos pombos

Que com seus dejetos

Emporcalham o anônimo da estátua.

Essa praça é da gramínea ressequida

Que insiste em não morrer

À espera da próxima chuva.

Essa praça...

Talvez tenha sido do ambulante,

Que sem ter com quem negociar,

Por ela já não perambula mais.

Talvez tenha sido do transeunte,

Que já não descansa nos seus bancos rachados

E que passa ao largo

Sem sequer dirigir-lhe um olhar

Talvez seja da árvore solitária

Que desperdiça a sua sombra

Numa espera inútil

Por alguém que a desfrute

Ou de um gari da prefeitura

Que recolha as suas folhas

- Lágrimas secas derramadas no último outono.

Essa praça é do abandono... do descaso.

Não! Essa praça não é do povo!

1- Castro Alves referiu-se à praça como um espaço de manifestação das liberdades democráticas, aqui se dá outra conotação.

Edmilton Torres
Enviado por Edmilton Torres em 20/06/2015
Código do texto: T5283720
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