Nascer pela palavra

Não passo de um pobre rapaz bom em trabalhos manuais, que deu de cara contra o muro de concreto de um império, sem perspectiva de futuro, só de débito. Muitas armas me cercam, muitos olhares me condenam, o frio de alguns me assola.

Uma cruz erguida, paralisante, deprime minha mente e me lança ao martírio, enquanto o tempo consome a vida deste meu corpo finito.

O clero, inepto, querendo que eu seja fraco, apenas me fez mais forte. Pois a palavra que desvirtuam em cada esquina, é na verdade meu martelo divino. Na palavra sou livre, eu crio o mundo que eu quero, sou poeta.

Cada palavra me convida e me dá guarida, me conforta e abre portas, janelas, um universo. É a voz que chega no meu espírito sem necessariamente passar pelos ouvidos, que eu interpreto com o meu próprio cérebro, o amor no peito, o calor de ser.

Cada texto me abre caminhos, alguns encerraram conflitos, outros nem entendi ainda. Há autores e personagens em que me inspiro, reais ou fictícios, sábios ou nem tanto assim. Um pouco deles fica comigo depois que eu fecho o livro, cada um soma na minha cabeça, e embora eu fique confuso às vezes, penso que ter algum dilema é um tempero para a vida.

E nem me preocupo mais com quantas vezes tentarão me matar por dentro, porque eu nascerei de novo em cada verso que escrever.

Ricardo Selva
Enviado por Ricardo Selva em 23/06/2015
Código do texto: T5287206
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