a dor (Das ruínas de minha cidade fantasma) 1

ardor. a dor move moinho remo na carne da palavra. larva-cravo desbrota da epiderme. delicadamente explode num buquê de pérolas. de minhas mãos nascem magnólias. cuias vazias abrigando silêncios gotas lentas escorrendo nas digitais. os cabelos nascem desassossegadamente trêmulos medusa de luz e na face rosa sem espinhos a chama, a minha cabeça...

a dor se esfinge e quase me devora. eu toda enigma que a pergunta reelabora. minha cabeça sonha vermelhos coágulos e as pálpebras nos ares serpenteando asas. face de sombras re_velam covas bem debaixo dos olhos e meu nariz não sangra entupidos de algodão.

a dor arde o trapézio e losango de corais na névoa abrigando navio em chamas. entre meus dedos crescem lodos limos válvulas cobertas de vivas-algas vulcânicas e salgadas lavas. minhas mãos à força da correnteza cavam o subsolo onde substrato da argila onde modelo o barro onde peixes calcificados.

minha cabeça de saigon cai sobre a cidade fantasma nuvem espatifada de vidro cobrindo de sulcos meu corpo cru. minha cabeça hiroxima explode nuvem de flor... minha cabeça móbile do mundo flor de sal rosa dália cintilância de fogo ovo crisálida broto incendiado no céu azuláceo do ínfimo lábio lacrado.

Rio, 2013.

(Das Ruínas de Minha Cidade Fantasma, dois mil e sempre)

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 02/07/2015
Reeditado em 21/07/2015
Código do texto: T5296984
Classificação de conteúdo: seguro