A natureza da metrópole
Como eu não pretendo abandonar minha consciência natural, viver na metrópole me corrói.
É tanto asfalto e concreto que meus pés sequer conseguem tocar o solo, e pouco a pouco os prédios vão escondendo nossos horizontes, diminuindo o espaço a meros metros quadrados, transformando os homens em polinômios matemáticos, eles vivem encerrados nas latas coloridas que substituíram suas personalidades.
A natureza em meio a esta sociedade caótica, porém, me brinda com uma borboleta amarela, que em voo rasante me cumprimenta e segue seu caminho de brevidade e leveza.
Uma cambacica graciosa, depois de comer banana na floreira, se chega mais perto da janela para ver o cãozinho que dorme na sala, e eu a escrever este parágrafo. Então chega o sabiá-laranjeira, e assim sucessivamente, muitas aves virão comer no decorrer da tarde.
As sementes que eu plantei germinaram, e as plantas que eu trouxe cresceram, estão verdinhas a me trazer alegria, enquanto lhes passo os olhos a qualquer hora.
Lá fora, em meio ao burburinho dos motores que expelem os seus gases venenosos, ouço a voz forte dos periquitos a criticar os homens. Eles protestam aos gritos em grande parte do dia, mas agradecem pelas frutas que a gente põe na floreira, aparecendo diariamente para nos dizer bom dia.
E por fim, o céu que nos cobre com tantas cores e tonalidades, nos cerca de mistérios e possibilidades, apresenta um espetáculo infinito num espaço e tempo contínuos, trazendo a luz que nos ilumina.
Mesmo diante de nosso absurdo desprezo, ainda somos socorridos pela natureza. Não porque temos um objetivo maior, mas simplesmente, pela lógica do amor.