A natureza da metrópole

Como eu não pretendo abandonar minha consciência natural, viver na metrópole me corrói.

É tanto asfalto e concreto que meus pés sequer conseguem tocar o solo, e pouco a pouco os prédios vão escondendo nossos horizontes, diminuindo o espaço a meros metros quadrados, transformando os homens em polinômios matemáticos, eles vivem encerrados nas latas coloridas que substituíram suas personalidades.

A natureza em meio a esta sociedade caótica, porém, me brinda com uma borboleta amarela, que em voo rasante me cumprimenta e segue seu caminho de brevidade e leveza.

Uma cambacica graciosa, depois de comer banana na floreira, se chega mais perto da janela para ver o cãozinho que dorme na sala, e eu a escrever este parágrafo. Então chega o sabiá-laranjeira, e assim sucessivamente, muitas aves virão comer no decorrer da tarde.

As sementes que eu plantei germinaram, e as plantas que eu trouxe cresceram, estão verdinhas a me trazer alegria, enquanto lhes passo os olhos a qualquer hora.

Lá fora, em meio ao burburinho dos motores que expelem os seus gases venenosos, ouço a voz forte dos periquitos a criticar os homens. Eles protestam aos gritos em grande parte do dia, mas agradecem pelas frutas que a gente põe na floreira, aparecendo diariamente para nos dizer bom dia.

E por fim, o céu que nos cobre com tantas cores e tonalidades, nos cerca de mistérios e possibilidades, apresenta um espetáculo infinito num espaço e tempo contínuos, trazendo a luz que nos ilumina.

Mesmo diante de nosso absurdo desprezo, ainda somos socorridos pela natureza. Não porque temos um objetivo maior, mas simplesmente, pela lógica do amor.

Ricardo Selva
Enviado por Ricardo Selva em 14/07/2015
Código do texto: T5310855
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