Abismo das Ilusões

E se descobríssemos que o existir não existe,

que água bebida nem mesmo é sólida,

que a luz ofuscante mal ilumina,

e que o vértice cósmico não pontua.

E se inventássemos a invenção,

poderíamos dizer até mesmo que não se diz,

que a transparência sempre nunca foi a ausência,

e o material se extinguiu antes do próprio concreto.

E se não profetizarmos que não tem,

ainda assim haverá?

E se o amargo chá não pôde ser cuspido,

pois desincorpora qualquer boca.

Se o longe sempre foi perto,

o ódio nada mais seria do que amor?

E caso a dor fosse apenas prazer incompreendido,

a felicidade poderia ser somente tristeza engarrafada.

E se toda nossa experiência de sobreviventes galáticos,

for apenas fruto de um estado de imanência alterado.

Uma fantasia do inconsciente espaço-temporal,

que envergonha as certezas ao se despir.

Talvez nem sejamos aquilo que é,

o troço do avesso de algum treco,

Quem sabe a poesia nem tenha sido escrita,

e a pertinente história já não aconteceu.

E assim...

As infinitas projeções clarejarão,

e o sádico jogo terminará.

Será que nossas adoradas mãos,

estarão manchadas?

Em alguma era terá valido a pena?

O descobrir simplesmente não se descobre,

que nós, canibais de ideias e orgulho da raça,

assassinamos todas as verdades.