Máscara
“O que há por trás de sua máscara, meu amigo? Há felicidade? Há dor? De uma forma ou de outra, quero participar, mostrar-me presente. Se está feliz, deixe-me comemorar contigo. Se está triste, deixe-me consolá-lo. Está perdido? Não sabe mais quem é? Tire a máscara. Como não? É o seu único problema, meu amigo. Tire-a e tudo ficará bem. Tudo ficará bem.”
As infiltrações traçavam uma rota sinuosa do teto até o batente da porta. Dividia-se em um sem-número de ramos e galhos em volta, meras estradinhas de terra em volta da pista real. Algumas conseguiam até chegar à lateral da porta. Só para os viajantes mais aventureiros. Era o caso do mascarado que passava pela porta naquele momento.
Sua máscara tinha uma forma diabólica. Na cor roxa, ia até o fim do pescoço do indivíduo que a usasse. No lugar dos olhos, duas safiras que mostravam o futuro a quem as olhava. Se fosse ruim, irradiariam uma luz forte que cegava o curioso.
— Já não sou mais o que antes fui. Preparo-me para ser o que serei. E ninguém vai me desviar disso. — disse o mascarado, diante do homem atormentado que se pressionava contra a parede oposta. — Peço-lhe perdão.
— Juro-lhe que não contarei a ninguém sobre essa invasão. Por favor, deixe minha casa. Por favor! — implorava o homem.
Eram velhos amigos. Até poucos minutos antes. A máscara falou por si só.
“Não quero que olhe para mim com pena, meu amigo. Olhe para mim como um caminho a ser seguido. Eu segui e estou feliz. Siga-me.”
Por que o amigo não queria seguir pelo mesmo caminho? Por que desdenhava a máscara? Por que não optava por seguir pelo caminho mais fácil, mais sorridente? Por que preferia ficar nas trevas, na lamúria? Tolice, hein! Quando um mundo de novas possibilidades e facilidades se desdobrava diante de si, preferia virar a cara e dizer “não”? Mais do que tolice: ignorância.
“Quando colocamos as máscaras, renascemos como seres mágicos sem limites. Tudo muda, todos mudam. Criam-se razões para sorrir no início do dia. Ou motivos para se colocar outra máscara. E depois outra. E mais outra...”
O mascarado deu meia-volta e deixou o homem em paz.