Eu. Cinco anos depois...

Cinco anos se passaram. Sem visitar estas palavras, as minhas. Estive imersa num mar profundo de outras palavras que me afundaram. Minhas ainda, mas de outra mulher que nunca deixou de ser eu mesma, em verdade. E essa personagem me perdeu. Mas enquanto eu a carreguei, ela também me despertou pra outro mundo. Mundo onde eu provei do ser mulher mais madura, mais livre. Como me libertei nesses anos! Se penso por vezes que foram anos perdidos, me iludo. Perdidos pra algo, inteiros pra mulher que sou. Hoje, perdi minhas grandes ilusões. Hoje, tenho no fundo das visceras as ilusões e desejos de sempre. Eu ainda sou a mesma. A mesma sem tantos sonhos e sem tanta paciência. Já conheço as palavras dos homens, suas danças, bailes e fantasias. Mesmo assim me encho de esperanças, a tal que morre por último, a cada nova vida. Muitas quedas, várias quedas. E se não cheguei onde queria, hoje vejo que fiz muito do que queria. Continuo a ser mulher demais, em muitos sentidos, principalmente na intensidade e na fragilidade, adoráveis e assustadoras. Parei de correr atrás deles, pra ser sempre cortejada. De que adianta tanta declaração, desejo e bajulação? Digo-lhes, caras amigas, nada. Eles lhe falam o mundo, no fundo, são muito covardes, egoístas e um mar de saco cheio de qualquer tipo de pedido de explicação. Minha metade nunca me pertenceu, nem deixou de ser metade. Hoje, ele foi banido por mim e por ele. Meu caro amigo se foi também. Meninos crescem, ganham o mundo e desaparecem. Minha metade tornou-se exatamente o que eu escrevi que seria. Amei-os. Com todo coração. Com toda minha eu que nunca deixou de existir. Mas ela está cansada. Ela estava até quase adormecida, depois de tanta agitação e de provar da vida de mulher. Mas eis que! Um raiozinho surgiu pra me dizer que ainda sou passional, a ponto de correr riscos grandes. Que realmente me deixo levar pelas vísceras. Em três tempos olhei, bateu, pegamos. Depois de me despertar, me fez ver de novo a cara masculina conhecida. Mas ah! Já estou crescida. Amor agora é assim, se me quer que me siga. Paciência tem limite sim. Percebi que reincidi em erro de um passado remoto. Mas ah! O erro não é meu não. É da covardia masculina. Perdoem-me os homens raros. Por um momento deixei de lado meus anos de mulher indiferente. Por que? Porque também tenho o direito de me irritar! E hoje me dou esse direito. Não mexam comigo, que se começar a palhaçada, corto em um dois três. Venha, meu bem, e outras coisas mais que lhe chamei, se quiser mudar o que fez. E se tiver cara de se refazer, pois sua imagem esta pior que cartaz pisoteado na sarjeta. O que eu queria de você era nada mais do o que foi dito por nós dois. Se para além, talvez, você não deixou ver. Mas deixa sua fresta aberta, que é pra essa aqui quem sabe entrar, por que o egoísmo impera sobre todas as coisas. Deixa aberta a fresta do quem sabe porque é assim que vocês são. Só que eu não sou a mesma. Eu não tenho esse tempo todo a perder. Eu cansei de sofrer. E ilusão e luta levam sim a resultados, mas provavelmente não os esperados, e pra que lutar por algo que nem tem tanta importância e nem merece ter? Trinta anos esse mês. Meu coração acelerado e arítimico quase infartou. Mas está vivo e cheio de cansaço. Pulsa triunfante, faz o que quer mais do que nunca, diz o que quer mais do que nunca. Bebe. Faz loucuras. Fica nua. Para a plateia. E ainda vai se libertar muito mais. Admirei sempre as tais divas intensas que foram tão infelizes. Eu conheço a depressão e sei o que é ser muito desejada e abandonada. Se sofro é por mim mesma. Porque amar nunca mais amei. Se o destino me reserva um Deus-ex-machina, pode mandar. Cheguei bem perto de ser o que sonhava, flertei de perto com o sucesso. Nem por isso desisto de minha arte, onde quer que ela se faça. Eu faço o que eu amo e quero. Eu pago as minhas contas, hoje. Eu amaria ser rica mas eu prefiro ser feliz. Se eu sou feliz? Não existe isso assim, preto no branco. Eu sou cada dia uma coisa. Eu sou bipolar. Eu me deixo levar pelas vísceras embora prefira os domingos em casa agora. Eu ainda sonho em casar e ter filhos. Meus amigos se foram, foi eterno enquanto durou, bem piegas e bem real. Eterno mesmo. Tão forte que jamais poderá ser apagado. Mas aprendi também que a raiva ajuda a esquecer. Que eu sofri calada sem perceber por anos. Fui abusada emocionalmente e de outras formas me deixei abusar. Sofri muitos estupros. Não quero mais. Talvez nesse exato instante eu esteja revoltada. Mas tenho tentado ser uma pessoa melhor. Se me recolho em meu quarto, se choro, se me canso, não tenho medo. Sei que levanto. Um dia eu levanto. Sempre foi assim. Só que tem lutas que não valem a pena. Porque quando cinco anos se passaram, e dos vinte e cinco você, num piscar de olhos, passou aos trinta, percebe que o tempo voa. E que ele está indo embora. Mas ah! As vezes você pode descansar um pouco. Fazer as coisas sem vontade apenas porque ele passa voando é forçar meu coração e é mais um estupro. Ah! Isso aí eu aprendi essa semana...

Tenho muito que aprender.