A Mucama e o Degredado

Sua tez me hipnotizava e vê-la me estonteava que o corpo perdia prumo e caía em desalinho, feito efeito de um forte fumo, feito efeito de um puro vinho. Acordado sonhava e me desorientava ficando sem norte sem rumo e inebriante descaminho. Encantado pela beleza do seu olhar de tigresa a mais bela criatura, negra de pura raça e nela chovia graça e a mais bela formosura. Cativou-me de surpresa, a bela princesa, tornando então a caça, o caçador de aventuras.Tornei-me sua presa nos confins da lonjura e que eu um degredado, um retirante tropeiro com a vazia algibeira,caí no destempero de ficar apaixonado pela bela pantaneira.

Teria eu imaginado mesmo sem eira nem beira o momento importuno, pelas barbas de Netuno de num breve segundo domar-me o pensamento, amor infecundo danava meu sentimento,pra quem se deita em esteira, senti-me o mais rico do mundo vivendo aquele momento.

Se por sorte ou ironia, por hora me encontrava enquanto que me perdia. Um cego alagoano, raizeiro e cantador. em versos de cantoria e que me causou tanta dor que o velho tirano era o dono e de todos era senhor, e jamais imaginava que ser humano prendia e que por moedas trocava nem mercadoria. Que belas eram mulheres, as que o homem se refere por aquela poesia como taças e talheres, garfos, facas e colheres da mais fina prataria para carne que ingere, a boca que se confere, o semelhante vendia. E depois fiquei sabendo que o cego cantador fugiu quando era um escravo e que ao ser capturado nas terras do reverendo, seu amo determinou que o cegasse, pra ver se ele fugia já que não estava mais vendo.

Ver a negra de perto com seu sorriso aberto gingava ao caminhar...como ver água em deserto ficava boquiaberto ao vê-la corcovear nas terras de Nhô Roberto, onde fui me empreitar.

A casta dos meus sentidos e desejos acometidos girava em parafuso me pego distraído confortavelmente confuso. Fiquei entorpecido por tê-la conhecido por tanto charme infuso.

Ilusão é viver de sonho e virar pesadelo medonho de não realizar , até mesmo quando risonho, transpareço-me tristonho por meio de um triste olhar.Sentimento que suponho, infinitamente enfadonho, jamais se concretizar.

Eu como um agregado um pobre desventurado, ela uma pobre mucama, ambos fomos fadados, servir vil pessoa mundana; um tirano degenerado,que apesar de casado, desejava em sua cama.

Já nasceu imperfeito,não surtiria efeito, planta que não floresce,

dilacerava meu peito,jamais teria direito, coisa que não acontece e por conta desse rejeito chorava em dura prece.Roberto não consentiria a negra que preferia jamais iria ceder e ninguém estimaria que a fortuna da alforria, e a minha maior agonia é o que o resto dos meus dias desse amor padecer.

Paulo Cezar Pereira
Enviado por Paulo Cezar Pereira em 12/09/2015
Reeditado em 17/09/2019
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