O tempo e o silêncio (Claude Bloc)
 
É verdade. E lá se vai o tempo amontoando momentos. De vez em quando paro e reflito e me misturo a todo esse silêncio à minha volta. Por isso, não sei bem precisar quando essas estações tardias se aninharam no meu coração, em minh'alma, conduzindo minhas palavras, minhas atitudes e minhas mãos nesse exercício da escrita.

Então o tempo vai chegando sorrateiro como se nada desejasse... e eu sigo rabiscando textos, enquanto os dias me lançam um olhar profundo, impregnando minhas pupilas com o mistério dos sentimentos, com o som de um solfejo inédito.

Finjo não entender para ouvir novamente esse som e poder repeti-lo e ao mesmo tempo resgatá-lo como um presente (tão) incomum na minha vida. Muitas outras vezes fraquejo e perplexa me pergunto onde me havia escondido. Por que não estava presente nesse tempo ou naquele... Chego a me procurar pelas estradas, pelas praças, nos olhos dos desconhecidos mas, nessas horas, não consigo vislumbrar, sequer, uma nesga de tudo isso que mais parece um sonho.

E é assim que entre mim e o tempo o fio da simpatia cede lugar aos elos do amor. E é nessas palavras, essas que lhes digo, essas que se projetam nos meus mais claros momentos e que se dispõem sempre altivas no meu enredo, como companheiras zelosas, que eu me assento enquanto elas seguem auxiliando-me a cuidar de mim em meus silêncios absolutos.

Então suponho que foi o tempo que guiou minhas mãos no desempenho de todas as minhas ações a fim de que elas se tornassem leves, macias e meus pensamentos sempre atentos a esse silêncio que não me cala.