* Vivendo de Sobras e Restos *

São 7 e 15 da manhã.

Abro a porta da minha casa e tenho a impressão de estar no lugar errado.

Olho em volta e não me encontro ali.

O que vejo não passa de sobras e restos...

São migalhas de outras vidas já vividas.

Percebo que nada aqui é meu, nada tem meu cheiro, meu jeito e minhas cores.

Tudo certamente, deve ser de outra pessoa.

São restos do que um dia, vivi.

Preciso durmir e talvez um banho quente ajude à relaxar...

Que sensação egoista e tão gostosa...

A àgua quente escorre em meu rosto, se confundindo com as lágrimas que teimosas e anciosas, teimam em cair...

Sentimento malcriado, atrevido, que toma conta de mim e, de

repente, eu não sou mais eu.

Fecho os olhos e deixo que a água escorra...

Agua quente, vapor cheiro bom de shampoo...

Em silêncio, agradeço à Deus por tudo que tenho...

Mesmo não sendo meu.

Agradeço por tudo que sou...

Mesmo não sendo eu.

Aproveito p/ pedir forças.

Força é tudo de que preciso agora.

Coragem para sair do chuveiro e encarar restos e sobras...

Sou vestígio do que um dia eu quis ser.

Sou migalha do que tentei ter.

Restos do que planejei e não conquistei.

Sobras de tudo que um dia sonhei.

Recomeço...

Saudade de uma época que de tão distante, perdeu a cor...

Vontade de me esconder, quase necessidade...

De disfarçar, correr, fugir e nunca voltar.

Esquecer...

Fechar a porta com todos meus restos e sobras...

Fechar e jogar as chaves fora.

Começar tudo de novo...

Não usar sobras...

Não admitir restos...

Deixar que tudo aconteça...

Uma nova página...

Sem deixar sobras, sem deixar restos...

... Recomeço!