A minha seleção da MPB

Só vou convocar e quanto a escalar,

fica a cargo do Gonzaguinha,

por ter uma visão privilegiada,

lá do céu, mamão com mel,

mas ele pode contar com o João,

nascido no subúrbio nos melhores dias,

assim como também com o Emílio,

de Saigon, porque eles sabem tudo.

Osvaldo, que pode até nem querer jogar,

mas terá que tocar bandolins,

não para mim, exclusivamente,

mas para que a nossa mente

reaprenda a bailar.

O Chico, de cálice, mas não se cale,

pois nem durante a censura você se calou

e o lado bom daquela confusão

foi que éramos obrigados a pensar

para dribla-la. E por falar em drible

você aceita a partida?

Guilherme, você se consagrou

ao não vencer aquele festival

com aquele maravilhoso planeta água,

como um certo rei do futebol,

ao não fazer aquele gol,

do meio de campo, no TRI de 70

mas você foi campeão moral daquele festival,

assim como a nossa seleção na copa de 78,

mas você não é o meu camisa 10,

que pertence ao Bituca, apelido de peladeiro,

para nos devolver a esperança e a alegria,

como cantar pelos bailes da vida.

Beto,

o primeiro jogo será quando entrar setembro,

por isso se cuida, pois queremos você em forma

e informe ao Flávio, que a equipe terá que planar,

assim como o 14 BIS, para o dia nascer feliz,

de duas jovens promessas, que já não são mais promessas,

um felizmente ainda dentre nós e o outro também lá no céu,

mas esse não deve entender de futebol.

Venha Zeca, e traga lenha,

mas passe antes pela Paraíba do Chico César,

pois quando vi você me apaixonei e também

pelo Ceará e convide o Fagner,

para preparar os canteiros, o Belchior,

para nos mostrar tudo outra vez,

o Ednardo com o seu pavão mysterioso.

Em Pernambuco o Geraldo e o Alceu,

que aqui na Bahia cuido eu,

de chamar o Gil e o Caetano,

sendo que, se vivo,

também chamaria o Raulzito,

com sua impressionante metamorfose ambulante.

Moraes Moreira com cabeleira da Berenice

e como foi amada essa mulher,

é o que a poesia sugere,

mas nós poetas não seguimos

a lógica da lógica e por isso,

usamos de metáforas as vezes.

O Djavan tem perfil de artilheiro,

mas isso é com o treinador e seus assistentes

e eles que deem seus jeitos.

O Renato, de Eduardo e Mônica e seu xará, de Romaria.

O Sater, de quando um violeiro toca,

o Herbert, pois era só uma menina

e Toquinho, apesar de não concordar com o diminutivo,

pois na linguagem indígena seu codinome seria Grande Toco.

E você não precisa nem jogar,

basta tão somente, na outra página daquela folha,

onde você e o Vinícius desenharam um sol amarelo,

agora desenharem um esquema tático,

com um time pra frente,

estilo Engenheiros do Hawaii,

como numa infinita highway.

O Vercilo, porque nada mais é o amor

que o encontro das águas.

João, e quando o amor acontece,

a gente se torna o bêbado ou o equilibrista?

E na preliminar, para nos brindar, o Tom Zé, Taiguara, Sá e Guarabira, Tunai, Dalton, Biafra, Cassiano, Hildon, Sérgio Sá, Zé Geraldo, Paulo Diniz, Lulu, Nando Reis, MPB4, Boca Livre, Roupa Nova, Samuel Rosa, Márcio e Lô, Tavito... num futebol bonito, como nos velhos tempos e nas cadeiras especiais, os compositores, grandes autores de criações, que ainda nos embalarão por gerações. Fico arrepiado só de pensar e que trabalhão você vai ter, irmão Gonzaguinha e repare que não convoquei o Tim, por dois motivos óbvios: o primeiro é porque ele não está mais neste plano e o segundo é que, se convocado, poderia não se apresentar ou chegar atrasado. O que ele quer é sossego.

Pai, obrigado por ter permitido que eu pertencesse a essa geração.

rodriguescapixaba e Dulcinalvo
Enviado por rodriguescapixaba em 04/11/2015
Reeditado em 04/11/2015
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