Confissão do poeta

Hoje considero-me um poeta diferente dos tempos de outrora do meu próprio tempo de antes, pelo que escrevo, quer considere melhor ou não do que anteriormente, pois cada ocasião é fruto da sua própria ocasião, digo pela maneira e jeito amadurecido em que me vejo e reajo diante das coisas, pessoas e situações. Poderia dizer ser melhor agora em tudo que faço, diria ainda talvez... porque não afirmo nem me autoafirmo, não digo ser bom naquilo que faço, porque faço! acho melhor assim ser e não ser ao mesmo tempo, porque tiro proveito deste sentimento de liberdade de criar, recriar e de expressar. Hoje deixo o julgamento para os meus pares, para as pessoas que me relaciono, para aqueles que se dizem críticos de alguma coisa. Sim, se me perguntassem algum dia sobre a crítica oficial, diria que ela sempre me causará alguma suspeita, quer seja sincera ou não... a crítica mais do que o artista, está sujeita a cometer deveras... injustiças! para não dizer severas. O artista, parafraseando o tema do filósofo Nietzsche, está para "além do bem e do mal". Particularmente prefiro a sincera observação das criançinhas, citando o mestre dos mestres: "deixai vir a mim as criançinhas, porque delas é o reino dos céus". Sei que há qualquer coisa em mim que busca sempre este paraíso perdido, esta inocência que ficou lá trás, e que não tem como resgatar numa praia de nudismo, que nos distancia da real que não é natural e do natural que não é real. Posso esclarecer... mundo à parte, não é mundo, mas qualquer outra coisa que não condiz com a realidade das coisas, como se achar estar numa ilha encantada, vivenciar uma lenda que tão somente está num mundo que criamos para nós mesmos, e de algum jeito desejamos compartilhar com outras pessoas, assim é no campo da poesia, da arte, do romance, do conto, da realidade virtual. Não que seja determinantemente contra a praia de nudismo (não deixa de ser interessante), embora não seja minha praia, não por vergonha ou receio, mas vale mais como observação, no sentido de que se a coisa não se pode ser vivenciada em sua inteireza, no meu ponto de vista é um paleativo, e paleativo não preenche a verdadeira necessidade, antes porém, fosse um local (praia de nudismo), para se morar e conviver definitivamente, e não como fuga, protesto, invenção, ou que tivesse um aspecto apelativo. Mas aí é assunto para uma outra oportunidade, que talvez venha a encarar num conto ou crônica, de uma maneira mais romântica e/ou nostálgica.

Bom, voltando ao assunto em questão, falando do poeta que se apresenta diferente hoje, amanhã provável que mais ainda. Pois é! se me perguntassem se tenho uma natureza camaleônica, diria que estou sujeito a mudanças no ato de fazer e criar, em algum momento da minha vida fui um poeta mais romântico, lírico, não que tenha deixado de o ser, pois acredito que todos os poetas pela tradição do fazer poético, quer queira ou não! estarão sempre sujeitos e/ou estigmatizados pela idéia de serem "românticos", há os que não querem, e se esforçam para não o serem, mas aí é como cada um interpreta e se mostra, questão de postura, escolha, sei lá! Sei que se por algum momento escrevemos sobre o tema do amor, é o suficiente para estarmos habilitados para sermos considerados "românticos", e isso, independe do estado de espírito, mas em conformidade com tudo aquilo que nos faz ser o que somos, poetas. Particularmente nunca neguei de o ser, e se neguei três vezes, outras três afirmei que era. Mas ser ou não ser... romântico! não é a questão aqui, acredito que estou sujeito as intempéries do tempo e do amor, sujeito como Fernando Pessoa e outros poetas estiveram antes de mim, a criar e a recriar buscando sempre novos caminhos que se cruzam no campo da literatura. Sei que hoje trafego numa lírica ou tema, que me leva do realismo ao surrealismo, do imanente ao transcendente, do físico ao metafísico, e, ao mesmo tempo a trabalhar questões românticas, digo... falar de amor! Sim, porque o único compromisso que tenho é comigo mesmo, meu ato de escrever, em relação às coisas e pessoas que de alguma forma me influenciam, em relação ao que viveciamos e por empatia ou não, trocamos! Assim, sou um poeta do meu próprio tempo, que dialoga com os poetas de outrora e do porvir. Poeta do tempo sem tempo, por isso, hoje escrevi como se fosse ontem, e é o que me faz perceber que minhas palavras de alguma forma se tornam eternas e serenizadas.

denymarques
Enviado por denymarques em 30/06/2007
Reeditado em 24/08/2007
Código do texto: T547291