MARCHA DA SOLIDÃO
Dai-me poça à inquietude
Dai-me rala e de brincadeira
Não espero nada além das flores roxas do ipê
- preâmbulo de inverno -
Desaquece alento tolo em meu jeito
Escárnio de mim, dedo em riste
É o sarcasmo de xale e borzeguim
Zombando e sugando seiva; interior a aflorar.
Peste fria, pulverulenta
Minha alma vazia e insípida
Caixilhos de dor, ode ao rancor
De ser pessoa e de ter um relógio
Não tenho estrela, não brilho mais
Assumo assaz, a insipiência e o dom ao ócio
Vital à morte, um cacho de uvas podres
Misericórdia!
Esforço-me a me aplaudir
São gotas, estímulos de outrem
Em desertos de tela, sem amor nem areia
Cavaco se incendeia a me clamar por atenção
Só se almoça tensão
Então, enjôo
Sinto nojo da sombra.
Nas passarelas, átomos em novidades
Rezando contra mim
Todas argutas e soberanas neste céu de desespero
Remo, à toa, ao topo árido
Que seja o mundo, esta vaga decisão
Que o futuro me cause (e me canse) como em outros passados
Com a dor intensa da rescisão
Sem a cor imensa da solidão.