MARCHA DA SOLIDÃO

Dai-me poça à inquietude

Dai-me rala e de brincadeira

Não espero nada além das flores roxas do ipê

- preâmbulo de inverno -

Desaquece alento tolo em meu jeito

Escárnio de mim, dedo em riste

É o sarcasmo de xale e borzeguim

Zombando e sugando seiva; interior a aflorar.

Peste fria, pulverulenta

Minha alma vazia e insípida

Caixilhos de dor, ode ao rancor

De ser pessoa e de ter um relógio

Não tenho estrela, não brilho mais

Assumo assaz, a insipiência e o dom ao ócio

Vital à morte, um cacho de uvas podres

Misericórdia!

Esforço-me a me aplaudir

São gotas, estímulos de outrem

Em desertos de tela, sem amor nem areia

Cavaco se incendeia a me clamar por atenção

Só se almoça tensão

Então, enjôo

Sinto nojo da sombra.

Nas passarelas, átomos em novidades

Rezando contra mim

Todas argutas e soberanas neste céu de desespero

Remo, à toa, ao topo árido

Que seja o mundo, esta vaga decisão

Que o futuro me cause (e me canse) como em outros passados

Com a dor intensa da rescisão

Sem a cor imensa da solidão.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 02/07/2007
Reeditado em 09/07/2008
Código do texto: T549061
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