Rompantes
O poeta tem apenas uma face e mil corações.
Por isso às vezes fala de tristeza quando está feliz
e escreve alegria quando de tão triste, chora.
Drummond versou: “tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo”.
O poeta existe entre outras coisas pra servir.
Prestar-se cavalo ao pesar do vizinho,
ser portador de uma ventura que de tão distante não vê,
tornar palavras os sentimentos das gentes.
Derrama o poeta palavras com método e perícia, zelo e justiça
e as vezes ao cuidar de si quando o espírito nas tristezas insiste,
mete o coração pelas mãos e rasga o verbo com rompantes de raiva.
Afinal, o poeta, é antes de tudo gente.