Meus Óculos de Sol.

Este ano ele completa vinte anos estampando meu rosto.

Vinte anos!

Metade da minha vida!

Quase parte de meu corpo.

Hoje não poderia deixar de prestar-lhe esta homenagem...

Meus óculos de sol...

Sua marca se desgastou...

Enfrentou todos os sóis...

Suores, lágrimas...

Mares, chuvas, lagoas, correntezas, tempestades...

Doze lentes substituídas...

Sete plaquetas trocadas...

Ponte duas vezes soldada...

Quebrou... Voltou...

Queria-me!

Lentes verdes, vermelhas, marrons, escuras...

Lentes de grau...

Levou bolada, caiu na estrada, bofetada...

Engastalhou no pé de goiaba, na mangueira, jabuticabeira...

Deixou-me cego na encruzilhada...

Por pouco... Por nada...

Ao acaso... Sempre o reencontrei...

Em gavetas, debaixo de camas, dentro de tênis, bolsos de camisas, matagais, estantes de amigas...

Mas sempre voltou!

O substituto de meus olhos...

Oval...

Ultrapassado...

Meio Lennon...

Meio Dylan, Nando Reis ou Raul Seixas...

Parte solta de mim...

Anos noventa de um século que já se foi...

Oxidado, carcomido, arranhado, continua aqui...

Atemporal...

Através de suas lentes muitos livros lidos e chorados...

Muita vida passada e repassada...

O torpor de um tempo...

O mormaço de vidro, plástico e aço...

Uma geração no ponto de visão...

Meus óculos de sol...

Não vendo! Não troco! Não dou! Não empresto!

Quando morrer, que me enterrem com ele!

Não me levem a mal!

É apenas um óculos de sol...

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 16/01/2016
Reeditado em 17/01/2016
Código do texto: T5512935
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